No provável ano mais importante de sua carreira de ator, Rodrigo Santoro se sente numa seção de "achados e perdidos". A impressão é exatamente essa.O astro fluminense, às portas de seus 31 anos, parece ter sido oficialmente "achado" pelo sucesso internacional. Mas se sente meio perdido.É assim. Santoro e sua fama de ator "estudioso" e dedicado estão escalados para integrar o elenco do seriado-fenômeno "Lost". Não sabe quando nem o que vai fazer, mas vai e vai fazer. Mais: o ator passou janeiro no Canadá, filmando sua participação como o tirano imperador persa Xerxes em "Os 300 de Esparta" ("300"), a adaptação para a tela grande do clássico das HQs de Frank Miller."São experiências muito diferentes das que eu estou acostumado a enfrentar na minha carreira. Acho que isso é crescimento e um desprendimento. Sempre trabalhei muito minuciosamente em pesquisa de campo antes de construir um personagem. E para esses dois trabalhos eu estou na mão da força cósmica, sei lá. Me sinto meio inseguro, mas estou deixando ir", afirmou à Folha.A beleza estampada em tudo quanto é revista brasileira e a pecha de "ator global" podem dar a sensação contrária desse momento internacional de Santoro. Mas a verdade é que, apesar dos predicados óbvios, ser galã de novela nunca foi seu forte. Os filmes de que participou não estão apenas em maior número mas foram também mais bem-sucedidos. O desempenho do cinema brasileiro no exterior teve papel importante na expansão da carreira dele."Carandiru" e "Abril Despedaçado" são citados por produtores de "Lost" para elogiar os dotes de Santoro. Damon Lindelof e Carlton Cuse dizem que ele já é conhecido como "Tom Cruise brasileiro", mas que eles preferem vê-lo como uma espécie de Russel Crowe, por sua entrega ao papel, escolhas da carreira e talento do ator.Na entrevista, Santoro fala sobre os bastidores de sua participação em "Lost" e revela que já tinha sido convidado a trabalhar em um outro seriado de sucesso, "Alias". Folha- Como aconteceu o convite para integrar o elenco de "Lost"? Rodrigo Santoro - Há mais ou menos dois anos fui convidado para fazer uma participação em uma outra série, aquela "Alias". E o produtor que fazia essa série e que me convidou na época veio para "Lost" neste ano. Na ocasião, ele entrou em contato comigo, disse que conhecia meu trabalho em "Abril Despedaçado" e me chamou para o "Alias". Ainda estava envolvido com a série "Hoje É Dia de Maria", que eu estava muito a fim de fazer e resolvi não aceitar.Na última vez que estive em Los Angeles, há um mês, fui procurado por ele e começou a história de "Lost". Tivemos um encontro, ele me apresentou aos outros produtores-executivos da série. Tivemos dois longos encontros, essa oportunidade apareceu, o interesse foi manifestado. Realmente ainda não assinei um contrato nem sei o que vou fazer. As pessoas acham que estou fazendo mistério, porque a série é misteriosa. Mas realmente não sei muito. Uma das coisas que eles me falaram é para eu não me assustar porque a forma de eles trabalharem era assim mesmo. Falaram: "Você não vai saber o passado do seu personagem. E vai receber as cenas um pouco antes de trabalhar!". Folha - Você acompanha a série? Santoro - Cheguei a ver um ou dois episódios da primeira temporada. E agora, naturalmente, já estou no final da segunda. Folha - Na trama, há uma possível história de brasileiros envolvidos no mistério. Você deve ser um deles? Santoro - Não, me disseram que não tem nada a ver. Falaram com bastante humor que acharam engraçado porque parece que no último episódio, não vi direito ainda, aparece alguém falando em português... Pelo que me disseram, não sou um dos brasileiros. Eu seria um dos sobreviventes do avião, que já estaria na ilha todo esse tempo. Vai ser um personagem com uma história. Eles estão pensando em fazer um personagem de origem brasileira, mas devo falar em inglês. Folha - Esse mistério todo deixa você inseguro? Santoro - Nunca trabalhei assim. Já fiz novela, onde você tem pelo menos uma sinopse, sabe pelo menos um bloco de seis capítulos. Agora estou totalmente no escuro. Estou aceitando o risco porque acho que a oportunidade é interessante. E de quebra é no Havaí. Gosto bastante de surfar e sempre tive vontade de conhecer o lugar. Folha - Quando você vai? Santoro - Acho que em duas semanas. Mas nem isso sei. Falaram que iam me ligar: "Vem". Folha - E como está seu inglês? Santoro - Inglês para mim ainda é um obstáculo. Não é uma coisa orgânica. Folha - Depois de rápidos papéis sua carreira internacional está tomando forma, não? Santoro - Estou, através dessas experiências todas, trilhando meu caminho, mas vou só seguindo o fluxo. Não tenho uma meta, um plano, nem tenho onde eu quero chegar. Folha - Você sentiu que o convite para "Lost" teve uma repercussão diferente dos trabalhos de cinema? Santoro - Não imaginava. Isso é uma loucura! Quando eu recebi o convite lá, sabia que era uma série bem-sucedida, mas como centenas outras que eles produzem. Aí fui perceber que a série é uma febre até aqui. Folha - Como foi sua liberação da Globo? Santoro - Meu contrato está terminando em dezembro. Peguei uma licença não-remunerada para fazer esse trabalho e aí, quando eu voltar, cumpro esse finalzinho do contrato. Folha - Como foi sua participação no "Os 300 de Esparta"? Santoro - Ele foi todo feito mais ou menos nos mesmos padrões da HQ do Frank Miller, com aquele fundo azul. Eu faço o imperador Xerxes, que comanda um exército de milhões. Só que nunca via ninguém. Tive que trabalhar diante de um fundo azul e falando com um esparadrapo. Você tem que usar muito a imaginação e ter um poder de concentração enorme. Ficava exausto.