No dia 25/09/1939 a professora Jahyr Martins Ferreira, nascida em 25/03/1918 na Colônia Militar dos Dourados, hoje Município de Antonio João-MS casou-se com o guarda-livros Abílio Ferreira, nascido em 03/06/1913 em Mata de Lobos, Portugal. Após morarem alguns meses no Cerrito, compraram na Picadinha, cerca de 35 hectares de terra de Herotildes Brandão de Souza, área adquirida por compra ao Estado de Mato Grosso pelo seu falecido esposo, doutor Valdomiro de Souza, área originária da gleba São Domingos. A cerca de 2 km da moradia, vivia Manuel Garcia em sua propriedade que pertence hoje a Paulo Radecke e na mata, como se chamava antigamente, a viúva Maria Cândida de Oliveira e seus doze filhos, cujo pai Dezidério de Oliveira tinha falecido em 03/02/1935, tendo lhes deixado de herança 600 hectares, sendo estes os únicos proprietários mais próximos.
O casal chegou em companhia da filha Doroti Martins Ferreira com 2 anos, nascida em Porteira Ortiz, Ponta Porá, hoje aposentada como professora. Nasceu também em Ponta Porã o primeiro filho que levou o nome de Francisco Paraguassu Martins Ferreira, na Picadinha José Tibiriçá Martins Ferreira e Iracema Maria de Fátima Ferreira. Adotaram, criaram também Maria Nunes de Olivera, Celso Teixeira Barbosa, Ivonete Teixeira Barbosa.
Em 1943 abriram o comércio Casa Brasil, fabricaram por muito tempo em seu alambique a aguardente Ferreirinha e exploraram a atividade madeireira na Chácara São João e Penha.
A Escola Municipal Geraldino Neves Corrêa que fôra construída no ano de 1944/1/45, no governo do Interventor do Território de Ponta Porá, Coronel Ramires de Noronha foi uma luta da família Ferreira.
Adquiriram em 30/08/1951, de Luiz Antonio Leão e sua esposa Ana Marques da Silva, de seus herdeiros, um deles Antonio Luiz Coimbra (Tutunha) parte da Fazenda Parador, Cabeceira do Cervinho, que por sua vez tinham adquirido de Maria Soledade Pires. Nesta área foi construído o primeiro loteamento da Picadinha, denominado Leonópolis. Lutaram para criação do Distrito, sendo o mesmo elevado pela Lei Estadual no 1159, de 18/11/1958.
Abílio Ferreira foi um dos fundadores da Loja Maçônica Antonio João no 5 de Dourados, que inicialmente funcionou na Av. Weimar Gonçalves Torres (antiga Rua Rio Grande do Sul), numa casa de madeira cedida pelo Sr. Galhardo e fez parte da primeira diretoria. Em 31 de março de 1959 foi nomeado Escrivão de Paz de Picadinha, aposentando-se em 21 de novembro de 1989. Pelo Decreto Legislativo no 36, de 26 de novembro de 1987, recebeu o Título de Cidadão Douradense.
Em 1989 loteou novamente parte de suas terras, sendo cortadas as Chácaras Duque de Caxias na saída da sede do Distrito para Itahum, ao lado da Rodovia 162, uma homenagem ao patrono do Exército Brasileiro, pois ali funcionou um posto militar para combater o contrabando do café, cuja área ele cedeu ao 11o RC. Abílio Ferreira era filiado ao PSD, tinha como companheiros políticos o ex-Deputado Federal Weimar Gonçalves Torres, Onofre Pereira de Matos, Albino Torraca, José Augusto de Matos Pereira, além do petebista contador, ex-vereador, deputado estadual e um dos prefeitos mais honestos que passou por Dourados, Vivaldi de Oliveira, que mora próximo da Igreja São Francisco.
Doou parte da terra para construção da sede do Santo Antonio Futebol Clube, cuja escritura foi lavrada em seu Cartório. Ele com o irmão José Ferreira sempre incentivaram o esporte na Picadinha e o primeiro campo de futebol ali começou em suas terras.
Abílio Ferreira faleceu em 05 de novembro de 1995, está sepultado no cemitério particular da família na Picadinha, onde muita gente já se encontrava sepultada quando adquiriu a área e ali a maioria dos moradores do lugar ainda são enterrados sem se cobrar um tostão. O acesso ao Distrito leva o nome de Abílio Ferreira.
Dona Jahyr, sua esposa além dos afazeres domésticos, também foi professora por muitos anos, reside hoje na Av. Weimar Gonçalves Torres, 876/894 ao lado de três filhos, genro, nora e netos. Apesar dos quase 92 anos ainda trabalha, é uma pessoa bem informada e gosta muito de ler, sendo assinante do Jornal O Progresso desde a sua fundação. Na Chácara São João e Penha, ainda tem sua casa e quando pode vista a propriedade.
Em 07 de setembro de 2002 a pedido do ex-prefeito Tetila, doou uma carreta de boi, hoje instalada na Avenida Marcelino Pires, em frente à Rádio Caiuás, na rotunda desta avenida com a Rua Melvin Jones.
Foi pela Picadinha que transitou a primeira Jardineira Mista (Expresso Queiroz) transportando os colonos que chegavam do nordeste, com destino à Colônia Federal de Dourados. Eles desciam na estação férrea de Itahum e Maracaju e a Casa Brasil era parada obrigatória. Ali o Seo Queiroz dava uma geral na jardineira, partia com destino a Dourados e quando a mesma atolava, as juntas de touros da Chácara São João e Penha, atrelados a uma corrente arrastava-a. Os caminhões da empresa Rodo, de Romeu Targiani que traziam mercadorias de Itahum e Maracaju, como outros caminhões sempre se socorreram das juntas para tirá-los do atoleiro. Naquela época não existia trator na região e havia muita solidariedade, não se cobrava um centavo de ninguém pelas empreitadas. Hoje a Picadinha está mais moderna, tem telefone, maquinário agrícola, casas bonitas, melhor campo de futebol amador do Município de Dourados.
Há 70 anos atrás era chamada de Picada Romualdo, era passagem para se chegar a Ponta Porá, onde o Rio Dourados dava passagem e hoje tem ponte de concreto para transpor o Rio Dourados pelo antigo Passo Torraca. As lavouras são mecanizadas, tudo se tornou mais fácil, pois existe o trator, planta-se na região um pouco de cada. Quando a família Ferreira ali chegou, as lavouras eram pequenas, de subsistência, viviam mais de troca, por um lado os vizinhos era mais unidos e as mercadorias para serem vendidas no comércio, eram transportadas de Campo Grande pelo senhor Manoel Garcia em suas duas carretas. Como o dinheiro era escasso, trocava-se muitas vezes sal por gado, fazia-se muito charque, a erva era produzida na região. Dona Jahyr ainda produz em sua propriedade erva-mate no barbacuá para consumo próprio. Agora tudo está mais fácil, existe o dinheiro no banco para tocar lavoura, construir casa. Sua casa foi construída há 40 anos na Picadinha com recurso próprio, levou mais de cinco anos, porque não havia empréstimo para construção de casa nos bancos. A lavoura era na enxada, produzia-se muita banana maça, nanica e outras variedades que eram vendidas para o mercado de São Paulo.
Muita boiada passava pela estrada da Picadinha, que descia dos vagões de trem em Itahum e Maracaju e era bonito ver milhares de cabeças de gado pantaneiro desfilarem pela estrada ao som do berrante.
No ano de 1962 a Petrobrás perfurou um poço ao lado da BR 162, hoje terra pertencente à famíla Vardasca e segundo foi noticiado pelo ex-funcionário Ronald Pylenghy, encontraram ali apenas gás, cujo poço encontra-se lacrado. Na década de 50 fizeram um levantamento para construção de um ramal férreo que vinha do Itahum com passagem pela Picadinha, mas ficou no esquecimento. Em 1983 houve outra notícia da construção de um ramal até o Porto Paranaguá, mas só ficou na conversa e agora novamente o assunto está sendo enfocado.
Para se chegar à Picadinha ficou mais fácil, a partir do asfalto construído em 1978, mas a população está aguardando o asfaltamento da rua principal, visto que o Distrito é o único que ficou até agora no esquecimento, mas acredita-se que os administradores em breve trarão o asfalto, pois várias reivindicações já foram feitas.
Esta é uma parte da história da Picadinha que outrora era chamada de Picada Romualdo.
Dourados-MS, 07 de dezembro de 2009.
* licenciado em Letras com Inglês, advogado, pequeno produtor rural e estudante do idioma guarani.
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