Poucas horas de sono, largada no escuro, deslocamento de madrugada com muito frio e 1.055 quilômetros no total atravessando campos minados pelo deserto do Saara. Uma quarta-feira massacrante para pilotos de carros, motos e caminhões na sétima etapa do Rally Paris-Dakar 2004, entre Tan Tan, no Marrocos, e Atar, na Mauritânia.O dia foi o mais longo de toda a competição neste ano, incluindo deslocamentos e trecho cronometrado. Para cumprir o trajeto, o primeiro piloto de moto largou do acampamento na cidade marroquina faltando cinco minutos para a uma hora da madrugada. Depois os competidores rodaram 345 quilômetros até a fronteira da Mauritânia, de onde largaram pela manhã para o desafio: cruzar 701 quilômetros contra o relógio, com todo tipo de terreno: pista de terra, areia, dunas e pedras.O piloto brasileiro Jean Azevedo, da equipe Petrobras Lubrax, sofreu para completar a etapa em virtude das dores que vem sentido no ombro devido a uma cirurgia no úmero. “Estou correndo bem abaixo do meu limite e isso chega a ser estressante. No final do dia eu estava segurando a moto apenas com o braço esquerdo e só apoiava o direito no guidão”, contou Jean. “Nas minhas condições físicas, corro com o objetivo de terminar o rali, o que já será um grande resultado”, admitiu o piloto, que sofreu um acidente em julho durante o Rally dos Sertões.Jean chegou visivelmente cansado ao acampamento de Atar. “Dormi apenas três horas antes da largada. Quando cheguei na fronteira da Mauritânia até tentei descansar um pouco, mas estava frio demais e foi impossível relaxar”, contou.Mesmo com o rendimento prejudicado, Jean Azevedo terminou a etapa em 14º lugar na classificação geral e está conseguindo manter a 12ª posição nos resultados acumulados desde a largada, dia 1º de janeiro. “Não consigo acompanhar o ritmo dos primeiros colocados”, disse ele no acampamento em Atar mostrando o velocímetro da moto, que marcava 178 quilômetros por hora de velocidade máxima no trecho de terça-feira.O francês Richard Sainct, tricampeão do Dakar, venceu a etapa do dia, mas o compatriota dele, Cyril Despres, atual campeão do mundo de rali cross country, assumiu a liderança da competição em duas rodas, posição antes ocupada pelo espanhol Isidre Esteve, que teve problemas com a moto.O Rally Paris-Dakar tem fama de testar os limites de máquinas e pilotos. Como não bastasse uma etapa com 1.055 quilômetros, nesta quinta-feira será o dia “maratona”, quando os mecânicos não poderão ir para o próximo acampamento, em Tidjikja, seguindo direto para Nema. Ou seja, os próprios pilotos terão que fazer a manutenção dos veículos no final do dia.A oitava etapa será relativamente curta, com “apenas” 389 quilômetros no total (355 cronometrados), mas quem tiver problemas mecânicos sérios estará a um passo de abandonar o maior rali do mundo.