Se a água é o bem mais precioso do século XXI, a ponto de motivar conflitos ou divergências entre países, um futuro foco de tensão pode estar nascendo na divisa entre Paraguai e Argentina, no trecho em que a fronteira deveria, em tese, ser marcada pelo leito do rio Pilcomayo.
Formado nas montanhas bolivianas, o Pilcomayo recebe, ao longo de seu trajeto, grandes quantidades de sedimentos que, com sua acumulação ao longo do tempo, estão retirando-o de seu leito original e empurrando-o para a Argentina, em situação que beneficia os “hermanos” e prejudica os paraguaios.
Mais do que um fenômeno natural, no entanto, a migração de mais de dois terços do volume de água do rio fronteiriço estaria sendo provocada, também, por um “desvio” feito pelo governo argentino na altura da localidade de Pedro P. Peña, nas proximidades da tríplice fronteira entre Paraguai, Argentina e Bolívia.
Tal “desvio”, consistente na limpeza de uma área de pendente com cerca de 1,5 quilômetro de extensão e 80 metros de largura média, constatado em medições aéreas e presenciais realizadas por técnicos paraguaios, é alvo de uma queixa apresentada pela chancelaria do país durante a Cúpula do Mercosul.
De acordo com o documento, mencionado pelo jornal ABC Color nesta quarta-feira (09), o “governo paraguaio expressa a seu similar da Argentina sua preocupação sobre o desvio do limítrofe rio Pilcomayo em direção ao território deste país”.
Tal preocupação decorre do fato de que o lado paraguaio está ficando, literalmente, sem água, em situação que prejudica milhares de agricultores e moradores das áreas ribeirinhas e faz com que o governo local tenha que gastar, cada vez mais, para aprofundar seu canal e permitir o ingresso de volume satisfatório.