É muito difícil para um jovem assumir a homossexualidade diante de uma família que não a aceita e também diante de uma sociedade que não a tolera. Muitos jovens se torturam quando descobrem uma tendência ou sentimento homossexual. Os pais, por sua vez, tendem a se sentir culpados ("Onde foi que eu errei?", o que na verdade evidencia uma ilusão de onipotência, como se ao atribuir para si a responsabilidade pela opção sexual do filho, também tivessem o poder de revertê-la. Às vezes, a educação pode até contribuir nesse sentido, mas em dose pequena. Os pais precisam ter em mente que ainda faltam muitos elementos para especular sobre os reais motivos que levam à homossexualidade e 10% acabam preferindo se relacionar com pessoas do mesmo sexo ou se sentem atraídas por elas. Como se desconhecem as causas da homossexualidade, é inaceitável que exista discriminação, preconceito e hostilidade, atitudes que abalam a segurança da pessoa que está descobrindo a sua sexualidade e tornam esse processo mais angustiante. Infelizmente, os pais tendem a transmitir "conhecimentos" ou "informações" baseados em preconceitos, mitos e idéias falsas. Na verdade, seria necessário que isso fosse realizado a partir de evidências clínicas objetivas e informações corretas que possibilitem aos adultos um debate franco e aberto, evitando transmitir ao adolescente conflitos inerentes à sua própria vida sexual. Os pais preocupados com a sua "virilidade" tendem a exigir dos filhos uma sexualidade que eles provavelmente idealizaram, mas jamais alcançaram. Estimular ou cobrar a heterossexualidade do filho e a docilidade e meiguice da filha, pode configurar uma fonte permanente e inesgotável de inseguranças e conflito sexual.Por isso mesmo, o jovem que apresenta um desejo homossexual nutre um grande medo da reação dos outros, sobretudo dos familiares. Esse medo pode virar paranóia, alimentada pelas atitudes da família, a qual age como se percebesse no filho um "defeito" que precisa ser corrigido à força. Muitas vezes, o filho acaba arranjando uma namorada falsa só para satisfazer a expectativa dos pais, uma maneira de adiar o problema.Quanto maior a hostilidade e a agressividade, mais o filho se retrai, podendo chegar a sair de casa, porque se sente marginalizado. Nesse caso, a sua relação com a figura paterna costuma ser frágil, sendo quase inexistente a amizade entre eles.Os pais precisam buscar orientação para entender o processo, às vezes doloroso, que o filho está passando. A homossexualidade deve ser encarada com apoio, carinho e atenção. Infelizmente, a maioria dos pais não está preparada para agir dessa forma, mas quando existe vínculo de afeto entre o jovem e a família, a aceitação é bem maior.Conversar serenamente é o melhor caminho, porque essa atitude diminui o conflito do jovem e melhora sua autoconfiança num período muito importante de sua vida, onde sua personalidade está se estruturando e amadurecendo. E, independentemente das preferências sexuais, é fundamental que pais e filhos mantenham uma relação afetiva intensa e permanente. * O autor, Dr. Moacir Costa, médico psicoterapeuta é autor do livro "Sem Drama na Kama" Ed. Pretígio/Ediouro