Cinco minutos. Este foi o tempo que o comerciante Heraldo de Jesus Santos, 42 anos, tentou convencer a atendente do 190 em Aracaju, Sergipe, de que duas pessoas suspeitas estavam perto ao seu estabelecimento. Na conversa, Santos explica para a atendente que dois motoqueiros estavam parados, “só de olho”, diz ele, por mais de cinco minutos. Ele detalha que os motoqueiros “não são moradores da rua. Estão parados há muito tempo e não tiram os capacetes da cabeça”.
A atendente pergunta se ele consegue visualizar os suspeitos. “Não. Não conheço. Estão com capacete na cabeça. Como é que eu vou saber?”, responde Santos. A atendente, então, insiste: “eu peço que o senhor tenha as características do indivíduo para me passar”. O comerciante responde: “está certo. Então tá bom. Tchau”.
A conversa foi gravada na última segunda-feira, por volta das 7h30. Três horas depois, Santos foi morto pelos motoqueiros com vários tiros. O problema: do outro lado da linha do 190 estava uma atendente de telemarketing que, segundo a Secretaria de Segurança Pública, não percebeu a gravidade da ocorrência.
“É um serviço de emergência e, infelizmente, tivemos um erro. A atendente não percebeu a gravidade. No entender da Secretaria, pela conversa gravada, ela pensou que fosse um trote”, afirmou Lucas Rodrigues Rosário, assessor de imprensa da Secretaria, em entrevista ao iG.
O serviço 190 da Polícia de Sergipe foi terceirizado em maio de 2009. São 90 atendentes de uma empresa de telemarketing que se dividem em quatro turnos. O assessor explicou que os funcionários, responsáveis pelo primeiro atendimento à população, são treinados. A Secretaria explica que, desde que o serviço foi terceirizado, foram atendidas cerca de 1,3 milhão de ligações na Grande Aracaju. “Nunca tivemos problema”, diz. A funcionária foi demitida.