Os dez médicos que ainda prestam serviço à Prefeitura de Ponta Porã entraram em greve ontem por uma remuneração mais justa e contra a jornada considerada “desumana” à que estão sendo submetidos diariamente, por conta do acúmulo de serviço. A paralisação dos atendimentos ocorreu ontem e não tem data para acabar. Nenhum paciente está sendo recebido no hospital regional.
Só os pacientes que estão internados receberão atendimento. Esta é a pior crise na área da saúde em Ponta Porã nos últimos dez anos. Dos quinze médicos que atendiam a população, um se mudou de cidade e quatro tiveram que se afastar por causa de problemas cardíacos. Eles ainda estão em tratamento e não se sabe se após a convalescença irão voltar aos plantões.
Os dez clínicos restantes reclamam que estão tendo de trabalhar de manhã, à tarde e à noite para receber um salário não condizente com o serviço que prestam. Por cada plantão os profissionais recebem R$ 500. Anteontem eles entregaram uma carta ao secretário de Saúde, Josué da Silva Lopes, reivindicando R$ 1 mil por plantão. Sem autonomia para resolver o problema, Josué levou o caso ao conhecimento do prefeito Flávio Kayatt (PSDB).
O prefeito teria sinalizado com um aumento para R$ 600 por plantão e depois para R$ 750, mas não convenceu os médicos. Ontem, o secretário foi informado oficialmente sobre a paralisação no pronto-socorro. Para a manhã de hoje está prevista uma reunião entre os médicos e os secretários municipais de Saúde, Josué Lopes e de Governo, Dulce Manosso, para tentar um acordo. Enquanto isso a população permanece sem assistência.
A greve dos médicos em relação à emergência é prenúncio do colapso iminente do sistema de Saúde em Ponta Porã, só comparado ao que foi registrado em 2000, quando o hospital e os postos de Saúde acabaram fechados. Autoridades do setor acreditam que embora a crise esteja relacionada à incompetência gerencial do Poder Executivo, ela pode provocar a queda do secretário de Saúde.
PIOR
Se a greve dos médicos é ruim, é possível que a situação fique ainda pior por conta da provável adesão de enfermeiros e funcionários administrativos do hospital regional. Descontos ainda não explicados na folha do 13º salário estão provocando protestos entre os que trabalham na unidade. Cortes de até 30% nos vencimentos recebidos estariam entre os motivos da revolta interna.
Como é de praxe, nenhum funcionário ou superior quis falar ontem sobre o problema. Eles pediram que fosse feito contato com a assessoria de imprensa da prefeitura, que aparentemente não tinha conhecimento do tamanho da crise. A Câmara Municipal também não foi informada oficialmente sobre a suspensão dos atendimentos no hospital regional.
Parlamentares consultados ontem disseram que estão sabendo “extra-oficialmente” sobre o problema, mas que o assunto não foi levado à discussão no Poder Legislativo. Os vereadores entraram de férias e só voltam ao trabalho no dia 1º de fevereiro do ano que vem. Embora nada os impeça de pressionar o Executivo por uma solução, é possível que o assunto seja acompanhado “à distância”.