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Foi-se janeiro, mês de leituras amenas. Amenas?

03 fevereiro 2010 - 08h20

Para as pessoas já amadurecidas, o alicerce está no antigo, o novo apenas acrescenta. É salutar, portanto manter um equilíbrio em nossas leituras, acompanhando o quanto pudermos o novo, mas não nos esquecendo dos clássicos que nos formaram. Acostumado, até pouco tempo atrás, a passar o ano fazendo leituras de obras técnicas, quase sempre áridas, janeiro sempre foi para mim, o mês de espairecer com leituras diversas do meu campo de trabalho - a história - não faltando uma visita, mesmo que rápida, a obra machadiana. Nesse ano foi diferente, Machado de Assis que me perdoe, mas (re)visitei Vinicius, “O melhor de Vinicius de Moraes” e “Para Viver um Grande Amor”; Mário Quintana, “A Vaca e o Hipogrifo”; Mário de Andrade, ”Macunaíma” e Franz Kafka, “O Processo”, sobre este último farei uma crônica à parte.
São muito boas leituras, as três primeiras mais amenas, se o caro leitor não tiver o hábito de recorrer, sempre que for preciso, a um dicionário. No meu caso, não tendo um dicionário à mão li as obras de Vinicius e Quintana anotando em um bloco as palavras que me eram desconhecidas.
Somente depois recorri ao dicionário e enquanto procurava fiquei imaginando por um lado como é rica a nossa língua portuguesa; por outro, para que servem e como são criadas palavras tão pouco utilizadas.
Resolvi juntar essas palavras recolhidas dos livros com mais algumas retiradas de uns artigos de jornal e eis texto que formulei (peço que o leitor tenha paciência, pois imediatamente em seguida eu mesmo apresentarei a ‘tradução’).
Partenogênese? Não, um incubo vindo em um vórtice, sem chirivari, gerou o renovo, diziam as sacripantas daquele ludreiro onde viviam, um ermo anômico.
Tatalando com moquéns, as megeras macabras atraíram a atenção do renovo e provocaram-lhe uma concussão cerebral que levou o desditoso a decesso.
Na tasca a catadura era para a risota. Deliquescentes diziam-se rajaputros, mas aplastados com o cacofônico burburinho, contentavam-se em serem considerados aedos.
Esses deliqüescentes junto às megeras fizeram pira do taipal incinerando a progenitora com o filho decesso.
É, meu caro leitor, isso é língua portuguesa. Veja a ‘tradução’:
Reprodução sexual em que um óvulo se desenvolve sem ter havido fertilização? Não, um demônio masculino, vindo em um furacão, sem tumulto, gerou o filho, diziam as pessoas desprezíveis daquele lamaçal onde viviam, um lugar sem lei.
Produzindo um som seco com varas, as mulheres de mau gênio, representantes da morte, atraíram a atenção do menino e provocaram-lhe um estado de inconsciência em virtude do golpe que levou o desventurado à morte.
Na taberna o estado de espírito era para o riso. Decadentes diziam-se nobres, mas cansados com os sons desagradáveis do barulhão, contentavam-se em serem considerados poetas.
Esses decadentes junto às mulheres de mau gênio fizeram fogueira nas tábuas da casa, incinerando a mãe com o filho morto.
Como é que obras amenas, obras gostosas de serem lidas podem ter tantos palavrões em seu conteúdo? E, eu, não teria nada mais importante a fazer que ficar juntando essas palavras na formação de uns parágrafos que se os ler amanhã não saberei o que querem dizer? Não teria sido melhor passar por cima dessas palavras e concentrar-me mais na mensagem dos autores?
Ocorre que as palavras que juntei estavam dispersas nos três livros citados (de Vinicius e Quintana), cada uma delas tinha um lugar exato para ser posta. Um lugar que dava rima ou ritmo ao texto. No lugar delas, constituem-se na sublimação do bruto pela arte, onde as coloquei ficaram forçadas, dando ao texto um desencanto total. Cada coisa em seu lugar.
Assim é com as letras, assim é com a vida. A sabedoria consiste em sabermos encaixar as coisas nos seus devidos lugares.
Em tempo: Sobre Macunaíma, como diria o próprio personagem: “deu uma preguiça...”.
Suas críticas são bem vindas: biasotto@biasotto.com.br


 
Wilson Valentim Biasotto *
* membro da Academia Douradense de Letras. Prof. Aposentado pelo CEUD/UFMS

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