Multiplicam-se na América Latina os mecanismos de controle dos Meios de Comunicação, em alguns países como cancelamento de concessões e intervenções arbitrárias. O governo do Presidente Lula vem discutindo como fazer para influenciar nesta área. Não tenho certeza sobre quais são suas reais intenções, já que é um governo assolado por diversas denúncias de corrupção.
No entanto, quero fazer outras considerações: sou contrário à censura como a conhecemos: a “La Regime Militar” - a liberdade de imprensa é um direito e um ganho da sociedade pós-ditadura, mas a liberdade de imprensa não pode ser o cerceamento do cidadão que, às vezes, recebe informações destorcidas. Por isso, o público que as recebe e os meios e profissionais que as produzem são também responsáveis e devem primar pela ética, caso contrário, não há liberdade, pois quem informa e quem é informado são objetos de honestidade.
Aqueles que atuam e aqueles que aspiram por uma vaga na mídia devem conhecer os processos pelos quais os meios de comunicação são capazes de destruir a vida das pessoas. E não é preciso refletir muito para se identificar tais problemas em nossos veículos de comunicação. Muitos profissionais e os Meios de Comunicação Social por eles usados, por exemplo, são tolerantes quanto a procedimentos éticos polêmicos, como se apresentar por outra pessoa para conseguir informação. “Este comportamento é aceito por 61,2% dos entrevistados de uma pesquisa.
O comportamento pode ser explicado porque 60% disseram desconhecer o código de ética da profissão, somados a 10% que conheciam, mas não o utilizavam”. Ora, os governos têm interesse de camuflar suas mazelas, muitas vezes, não querendo que a imprensa mexa nas suas feridas, mas os profissionais e os meios não podem usar de subterfúgios para gerar notícias e muitas vezes manchando pessoas, e/ou tentando mascarar outros acontecimentos.
Neste último caso, cito os episódios dos mensaleiros e por um líder de uma determinada igreja (entre outros), que usam os meios de comunicação para dizerem que o Ministério Público “está mentindo”, que não passa de perseguição. E têm jornalistas e meios (não todos) que se prestam a defender e propagar tais notícias. Onde está a ética?
Mas não é só um caso de falta de ética apenas do profissional e do governo. A forma de negócio da comunicação aponta sérios problemas de conceituação e a realidade dos fatos. Não se pode esconder-se atrás de códigos de ética não compatíveis com o produto que lançam e transferir as responsabilidades aos jornalistas. Nesta discussão sobre os jornalistas que desconhecem seus próprios códigos de ética, também há empresários de comunicação que não respondem pelos serviços que vendem.
É que a mídia todos os dias, oferece programas que se intitulam prestadores de serviço à comunidade de forma, linguagem e conteúdo questionáveis. E há quem aponte como saída para o fim desta mediocridade um controle da mídia e de seus personagens.
Perigoso? Pode ser! Mas um “Conselho de Imprensa” ou algo semelhante - para corrigir tais distorções não seria mau, desde que o governo não se tornasse o controlador, evitando maior desgaste da credibilidade da mídia e impedindo a possibilidade da legislação controlar a difusão de informação. Isto, contudo, não garante que os profissionais e empresários da comunicação sejam mais conscientes e éticos, mas oferece a possibilidade do cidadão ter mais chance na discussão do que é produzido e ser menos vítima da indústria da informação e entretenimento.
Porém, esta discussão pressupõe uma relação dialética entre leitor e editor. O editor mais apto para comunicar pode participar do julgamento da ética, entretanto, ele deveria estar prestando explicações no “banco dos réus” e não atuar como promotor. Então, como casar ética e mercado? Alguns teóricos afirmam que a ética jornalística e a de mercado são dois reinos de normas completamente diferentes e, em alguns casos, conflitantes. Porém, penso que liberdade de expressão não existe se estes dois agentes não são éticos. Uma informação errada (consciente ou inconscientemente) não é liberdade de expressão, é subversão da ordem.
Do outro lado, do leitor, há a necessidade de formar uma população de mentes críticas, que acabem por moldar a lógica de mercado. Não seria censura, portanto, uma regulação mais rigorosa dos meios de comunicação, uma “admoestação” em forma de classificação que definisse claramente o que é informação e o que é ficção. Uma classificação desta ordem não seria conflitante com a liberdade da expressão e seria um avanço na ética da comunicação, mesmo que, ainda assim, muitos leitores sequer percebessem a diferença.
Pe. Crispim Guimarães
Assessor de Comunicação e Coordenador de Pastoral da Diocese de Dourados