Sempre me apaixono pelo mistério das pessoas, e quando isso passa, da mesma forma que veio, a euforia cala. Procuro minuciosamente pessoas que tenham essa tempestade na pupila, que caminhem olhando pra dentro de si.
Nunca me chamou atenção aquele tipo padrão. Nunca me chamou atenção nada que seja convencional, prático, fácil, devotado, entregue e acomodado. Não sei você, mas aqui o que bate é constantemente alterado, não me agrada ter nas mãos. Pode chamar do que quiser, eu entendo como razão. É. Procuramos razões. A minha se resume em buscar mistérios e profundidade, o raso nunca me atraiu. É como aquilo de trair, se é pra trair por pouco, não o faça. Procuro traições pesadas, sem desculpas ou razões. Entende? A lógica nunca foi algo da minha natureza. Razão só vale à pena se for mais prazerosa que a loucura. E saiba que isso é algo bem difícil. Não traia, mas se o fizer, aproveite. Precisava te contar isso. Não seja isso que estou sendo agora, um novelo de seda, que provoca um ato de selvageria.
Sinceramente espero que não esteja lendo, mentira. Espero que esteja sim, que esteja sentindo curiosidade e no mínimo se pergunte, “tá, isso vai dar onde?”. Porque com você é assim. Onde?
O tempo todo o tempo todo o tempo... Todo.
Ontem fiquei buscando na minha memória judiada o jeito que olha. Pode chamar de paixão e tudo aquilo que dão nome por aí. Eu acredito que seja interesse, é! Seu subjetivo me interessa.
Isso que tem em você é meio raro, pra não dizer que isso tudo que caminha pra chegar ao seu olhar é extremamente intenso e rico.
Pode ser tristeza, perguntas, agonia, saudade, medo, auto-realização e todo o resto, mas pra mim é só um olhar que caminha pra chegar num olhar.
É do seu olhar que estou falando. Até eu, uma fanática por fugas, se rende e fica pedindo desculpas por não conseguir desviar. Entende?
Fotografei um olhar que nasce junto com o espreguiçar do dia e dorme na mesma cama que eu.
Costumo dizer que leio olhares, e o seu escreve tantas coisas distantes, irreais, intocáveis e deliciosamente provocantes, que eu sento e peço, por favor, escreve pra mim.
Já se apaixonou por pupila? Pois eu recomendo: apaixone-se.
Agora eu refaço a cena: Senta, reclama, sempre reclama, cita Lacan, sorri, finge interesse, boceja, joga minhas fraquezas no meu colo, silêncio. Sempre silêncio. Compara. E olha.
Já não sei do resto, porque nesse momento, nesse momento eu leio.
Tão prazeroso quanto escrever uma poesia e poder ler uma poesia num piscar de olhos.
É isso, você faz poesia com os olhos. Eu? Só leio.
E não esqueça: É um circulo vicioso que procura uma mesma situação.
Nada, além disso.
poetisa*