O economista Enrique Duarte Romero projeta uma perda de R$ 400 milhões no PIB (Produto Interno Bruto) de Dourados neste ano em função da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). A partir da análise de dados globais, diz estar assustado com a possibilidade do aumento da pobreza e avalia que os governos deverão intervir para ajudar.
Doutor em História Econômica pela USP (Universidade de São Paulo), ele é professor na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), coordena as pesquisas mensais sobre o preço da cesta básica na cidade elaboradas por acadêmicos do curso de Ciências Econômicas da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia, e desde 2014 lidera a elaboração dos perfis socioeconômicos do município, cuja mais recente edição é de 2018.
Em 2019, apurou que Dourados teve PIB de R$ 10.076.955.560,00. E é a partir desse montante que projeta as perdas para esse ano, ocasionadas pela doença que tem motivado recomendações de isolamento social e paralisação de atividades econômicas.
Segundo Romero, o próprio Governo Federal apontou, ainda no começo da crise, que o PIB do Brasil, de R$ 7,3 trilhões em 2019, teria crescimento zero esse ano. Mas há projeções mais pessimistas.
“A Fundação Getúlio Vargas projeta uma queda de 4% do PIB este ano. São R$ 29 bilhões a menos. Aumentou a população nesse intervalo de tempo e como fica a distribuição de riqueza para essa população que está surgindo agora? Na visão do governo já estava complicado. Quando tem queda do crescimento econômico aumenta o nível de pobreza dessa sociedade”, disse ao Dourados News nesta quarta-feira (1).
É a partir dessa projeção de queda de 4% do PIB nacional que o economista calcula as perdas de R$ 400 milhões para o município.
“No estudo que sempre faço, o perfil socioeconômico, desde 2014 a economia brasileira estava em crise, mesmo assim Dourados mantinha crescimento econômico. Agora eu acho que até Dourados, região que tem dinamismo interessante a partir da agroindústria, vai sentir os efeitos. Uma questão que me assustou muito foi a projeção de crescimento da China, que só vai crescer 3%. É nosso principal mercado, então eles vão diminuir [as importações] e a cidade vai sentir”, explicou.
O economista esclareceu ainda que dos mais de R$ 10 bilhões de PIB que Dourados teve no ano passado, R$ 515 milhões da atividade agrícola, R$ 1,256 bilhão da industrial e R$ 7,250 bilhões do setor de serviços.
“Tem que levar em conta que serviços inclui gastos em educação e saúde, por isso é muito preponderante. Agricultura me assustou muito porque diante de R$ 10 bilhões de PIB ter um PIB agrícola tão pequeno, mas só leva em conta a produção no campo. O que acontece quando sai da lavoura, já não é mais agrícola, ou é serviço ou é indústria, porque o transporte é serviço, se vai esmagar já é indústria”, elucida.
Romero cita que a ONU (Organização das Nações Unidas) estima perda de US$ 2 trilhões na economia mundial. “Quase duas vezes o PIB do Brasil é o tombo que o mundo vai ter com essa crise. Todo governo tem que intervir, não importa a visão de mundo, se é liberal ou não. Mesmo com ajuda do governo as empresas vão demitir”, avalia.
Para dimensionar com mais clareza os impactos econômicos em âmbito local, o economista recomenda atenção ao Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho.
“Com os dados do Caged poderemos ver a questão da destruição de empregos. Dourados não está isolado, depende do dinamismo nacional e mundial. Sentiremos os reflexos, apesar da crise continuávamos crescendo, mas era Brasil, agora é mundo”, pontua.
Conforme noticiado pelo Dourados News na terça-feira (31), o Governo de Mato Grosso do Sul apontou que seu setor técnico prevê uma perda de arrecadação de aproximadamente R$ 994.581.000,00, ou seja, de quase R$ 1 bilhão nos próximos 9 meses em relação ao valor orçado na Lei Orçamentária Anual de 2020 (LOA – 2020).
Essa informação foi prestada ao STF (Supremo Tribunal Federal) na Ação Cível Originária (ACO) 3371, por meio da qual o Estado pleiteou e obteve decisão favorável do ministro Alexandre de Moraes para suspender por 180 dias os pagamentos das parcelas da dívida com a União. A mais recente, que seria paga dia 30 de março, era de R$ 31.303.002.92.