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Economia e ecologia não devem ter conflitos, por Marcus Eduardo

27 dezembro 2012 - 10h55



Em nome do que se convenciona chamar “progresso econômico”, a agressão ambiental em escala mundial não deixa espaço para dúvidas: o forte desequilíbrio no sistema natural é decorrente das mãos humanas que procura responder às ordens do mercado de consumo. Mais produtos, menos ambiente. Mais economia, menos ecossistema. À medida que o consumo ganha - pela ordem da imposição macroeconômica tradicional - maior proporção e torna-se sinônimo de prosperidade material, os recursos naturais são dilapidados de forma assustadora e o meio ambiente, eixo do sistema-vida, sofre as consequências. Disso decorre o desequilíbrio no sistema de chuvas, altera-se radicalmente o clima, desmata-se, polui-se, agridem-se os lençóis freáticos, chove onde deveria fazer sol, há seca onde deveria ter água. Essa “salada química” é intensa: monóxido de carbono, dióxido de enxofre, eutrofização (degradação do ambiente aquático), pesticidas.

Na busca desenfreada pelo bem-estar o homem moderno se fecha dentro de uma visão míope e rompe seus laços cordiais para com a Mãe Natureza. Que espécie de bem-estar é esse que degrada o ambiente? Que tipo de melhoria de vida é possível num ambiente natural caótico, desequilibrado e dilapidado?

Ainda em nome da expansão industrial, o ritmo alucinado do crescimento de algumas economias - modernas no nome; porém, arcaicas no conceito -, somente tem violentado sobremaneira a natureza. Dentro desse modelo, valoriza-se mais o som da buzina dos automóveis ao som do canto dos pássaros. A fumaça das fábricas passa a ter mais valor que o cheiro do mato. Da macroeconomia convencional vem à palavra de ordem: CRESCER. Pouco importa se a consequência seja DESTRUIR. Inverter esse procedimento é a necessidade mais premente dos dias atuais.

O relacionamento entre o Meio Ambiente e a Economia precisa ser harmonioso, visto que a segunda condição (a atividade econômica) depende da primeira (os recursos da natureza). Nesse pormenor, sempre é oportuno reiterar que o crescimento econômico não pode acontecer sobre as ruínas do capital natural. Contudo, infelizmente, é exatamente isso o que tem acontecido. Atentemos ao seguinte fato: de 1950 a 2000 a economia global foi multiplicada por sete. Nesse mesmo período, a produção de bens e serviços saltou de US$ 6 trilhões para US$ 43 trilhões, e hoje (2012), o PIB global atinge quase 80 trilhões de dólares. Entretanto, ainda não foi devidamente respondido a que “preço” esse elevado crescimento foi alcançado.

Enquanto a economia for responsável por sustentar essa produção/consumo exagerada que ocorre em benefício de poucos, haverá, por brevíssimo período, na outra ponta, uma mesma economia que “sustentará” a mais brutal agressão ambiental já vista. Que tenhamos então condições intelectuais suficientes para entender que a economia e a natureza não nasceram para condenar as pessoas à humilhação, à exploração, à pobreza material ou a dilapidação dos recursos naturais. Antes, Economia e Natureza, juntas, podem representar uma via de acesso às melhorias que levam ao almejado padrão de bem-estar social, desde que caminhando conjuntamente formem uma “parceria” capaz de crescer sem explorar, de progredir sem destruir, pois é perfeitamente possível parar de crescer e continuar a se desenvolver.

Talvez seja por isso que Jean-Michel Cousteau ponderou que “a economia e a ecologia não devem ter conflitos porque hoje são exatamente a mesma coisa”. O curioso é que num passado não muito distante, a ecologia chegou a ser chamada de “a economia da natureza”, dada a íntima relação entre o ato de “produzir” e o de “retirar” recursos da natureza.

Desse argumento de Cousteau resulta reiterar que a economia e o meio ambiente devem sim caminhar em conjunto, pois um é o complemento do outro, apesar de ser a economia um subconjunto do meio ambiente. Para tanto, a ideia central em torno da busca pelo crescimento econômico deve ser revista, pois esse não pode ser patrocinado pela dilapidação/exaustão dos recursos naturais. A própria palavra exaustão (na origem: extremo cansaço) já determina como será no futuro: é algo que vai acabar.
Portanto, é necessário moderação na busca pela expansão econômica, uma vez que é impossível crescer além dos limites.

Se há limites esses devem ser respeitados, uma vez que a Terra não aumentará de tamanho. A esse respeito à mensagem é única: usou, esgotou, não teremos mais.

Dessa forma, a história entre economia e natureza em conflito pode ser assim resumida: mais economia (crescimento) é sinônimo de menos ambiente. Logo, crescimento sem regras e sem ponderações aponta para profundos impactos ambientais, afinal, ambiente (ecossistema) degradado, é vida mal vivida.

(*)Marcus Eduardo de Oliveira é professor de economia.
Especialista em Política Internacional, com mestrado pela (USP).
prof.marcuseduardo@bol.com.br

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