Pois é bem menos do que parece: cerca de 40% dos pacientes de doenças coronárias não apresentam os chamados fatores clássicos de risco, informa Protásio Lemos da Luz, 63, diretor da unidade clínica de aterosclerose do Incor (Instituto do Coração). A ocorrência é mais preocupante quando se sabe que as doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte do país (33% do total). De cada dez vítimas, seis, em média, são do sexo masculino.Para entender como esse mecanismo fulminante pode ser detonado, imagine uma bomba em constante funcionamento, enviando sangue para todo o corpo, se contraindo e relaxando mais de 100 mil vezes por dia. Para que o "motor" não perca a potência, é indispensável um bom suprimento de "combustível", o sangue com oxigênio e nutrientes transportado pelas coronárias, artérias que irrigam o coração.Ainda que o órgão esteja sadio, uma obstrução no trajeto, dependendo do tamanho, pode fazer o motor engasgar ou "fundir", provocando de angina (dor no peito) a morte súbita. O problema é que, em 40% dos casos de doença coronária, a primeira manifestação é o infarto, com índice médio de mortalidade de 8%, segundo um estudo feito entre 1.600 infartados atendidos pelo Hospital do Coração. Daí a importância de exames preventivos de rotina, que possam identificar aterosclerose precoce a partir dos 35 anos, alerta Protásio."É uma avaliação preventiva que busca identificar a doença vascular e impedir a formação dos depósitos de gordura, que podem se acumular durante anos", explica. Se houver casos familiares de colesterol elevado ou problemas cardiovasculares, o médico recomenda avaliações periódicas a partir dos 20 anos.Entre as causas do infarto em pacientes não-convencionais estão baixa dosagem do colesterol bom (HDL), excesso de uma proteína, chamada homocisteína, que forma placas precoces nas artérias, além do aumento de uma proteína especial conhecida como Lp (a), que, em quantidades elevadas, ajuda a entupir as veias.Esses fatores de risco podem ser verificados através de exames específicos, solicitados pelo médico, após análise clínica. Com os resultados em mãos, o especialista terá como avaliar se o paciente precisa passar por outros tipos de exame não-invasivos, como ultra-som das carótidas (artérias do pescoço), teste de esforço, ecocardiograma, ressonância magnética e tomografia computadorizada.Independentemente da idade, é bom estar atento aos sintomas aparentemente comuns, mas que podem indicar uma ameaça de infarto, para reduzir os danos e riscos de sequelas, como insuficiência cardíaca, AVC (acidente vascular cerebral) e até paralisia parcial do corpo."Muita gente desconhece que uma dor na barriga ou no braço, por exemplo, pode ser sintoma de infarto e atrasa a ida para o hospital. A demora vai comprometendo o músculo (miocárdio) e, seis horas depois, o paciente pode ter a falência da bomba cardíaca", explica Luiz Francisco Cardoso, 44, coordenador da unidade coronária do Sírio Libanês.Revisões frequentes do funcionamento do sistema cardiovascular são ainda mais necessárias quando se leva em conta o estresse diário a que todos são submetidos. "Esse é um dos elementos que mais contribuem negativamente para a ocorrência de problemas cardíacos", afirma Marcos Barbosa, 55, diretor da unidade coronária do Hospital do Coração. "E, infelizmente, não há exame que possa avaliar seu estrago."