“Sempre houve crianças desnutridas nas aldeias de Amambai”, revelou a médica Kátia Angélica Bizzotto, em entrevista ao jornal A Gazeta, na manhã de ontem. A médica trouxe à tona um problema vivido pela comunidade indígena e que, segunda ela, acaba sendo maquiado pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde) responsável pela saúde indígena.
Com oito anos de atendimento nas aldeias de Amambai, a médica se deparou de perto com a triste realidade vivida pelos indígenas. Para ela, a desnutrição nunca abandou as famílias, pelo contrário, é um ‘problema crônico’ dentro da aldeia. “Eles vivem em estado de miséria e não têm condições de manter uma alimentação saudável. Começando pela mãe, já debilitada, passando pelos filhos, que também acabam não se alimentando direito”, disse.
Segundo a médica, os números que a Funasa apresenta são, de certa forma, maquiados. Explicou que na medição da desnutrição indígena é avaliada a relação Tamanho/Idade, diferente dos ‘brancos’, em que se analisa Tamanho/Altura. “Com essa medição, muitas crianças acabam saindo da condição de desnutridas”, explicou a médica. Para ela, quase todas as crianças da aldeia podem ser consideradas desnutridas.
“Mesmo desnutridas, muitas não morrem de desnutrição, mas ficam fracas e o organismo se torna incapaz de lutar contra outras doenças”, explicou.
Álcool
Outro problema apresentado é a indiferença de muitos pais indígenas, principalmente os viciados em álcool. Problema confirmado pelo agente de saúde Edmilson Martins: “Tem pais que simplesmente esquecem de alimentar seus filhos porque estão bêbados”, disse.
Funasa
Para a doutora, a Funasa se importa em dar ‘bons números’. Pressão e demissão acabam fazendo parte da vida de muitos funcionários da entidade. “Chega a ser ridícula a atitude de muitos coordenadores. Em reuniões, chegaram a proibir as crianças indígenas de morrer, como se nós não nos importássemos com a vida deles”, relatou.
Procurado pela reportagem, o chefe do Pólo de Amambai, Davi Pereira, disse estar proibido de dar entrevista e repassar qualquer informação à imprensa. Informou ainda que na terça-feira (26), o chefe dos DISEI-MS, Nelson Carmelo, estará em Amambai e somente ele poderá responder às acusações.
Não é de hoje
Em 2005, o Brasil e o mundo noticiaram a morte de crianças guaranis desnutridas
em Mato Grosso
do Sul. Até uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi instaurada na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. “Naquela época, quando noticiavam que 5 crianças morreram de desnutrição, ríamos da ingenuidade da imprensa, porque tínhamos 13 casos aqui”, lembrou a médica.
Em nota à imprensa, Flávio Brito, coordenador regional da Funasa
em Mato Grosso
do Sul, informou que no ano de 2008 foram 36 mortes de crianças menores de cinco anos para cada 1000 nascidas vivas. Os números de 2009 ainda não foram divulgados.
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