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Copenhague e a globalização

23 dezembro 2009 - 08h27

O mundo assistiu imóvel às discussões sobre o futuro do planeta na Dinamarca, onde líderes dos
países defenderam suas posições, cada um usando seus interesses econômicos como armas.
Lamentavelmente, algumas realidades são camufladas para não atingir a assim conhecida economia de mercado, que tem na globalização a sua maior logomarca. Mas, o que é mesmo
globalização? Simplificando, é um processo econômico e social que estabelece uma integração entre os países e as pessoas do mundo todo. Através deste processo, as pessoas, os governos e as empresas trocam ideias, realizam transações financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais pelos quatro cantos do planeta.
A globalização é também um fenômeno complexo que possui diversas dimensões econômicas,  políticas, culturais, comunicacionais. Para sua justa valorização, é necessária uma compreensão analítica e diferenciada que permita detectar tanto os seus aspectos positivos quanto os negativos. Lamentavelmente, a face mais difundida é o êxito da dimensão econômica, que se sobrepõe e condiciona as outras dimensões da vida humana. Nela, o mercado é absolutizado em detrimento das relações humanas. Este peculiar caráter faz da globalização um processo promotor de iniquidades
e injustiças múltiplas. A globalização, tal como está configurada atualmente, não é capaz de interpretar e reagir em função de valores objetivos que se encontram além do mercado e que constituem o mais importante da vida humana: a verdade, a justiça, o amor e, muito especialmente, a dignidade e o direito de todos, inclusive daqueles que vivem à margem do próprio mercado.
Privilegiando o lucro e estimulando a competitividade, a globalização ajuda na concentração de poder e de riqueza em mãos de poucos. Portanto, não é a falta de recursos que ameaça o planeta e sim a ganância para explorá-los e não dividi-los com a população mundial.
O conceito de Aldeia Global que se encaixa neste contexto seria algo a ser aproveitado para o bem da humanidade, pois está relacionado com a criação de uma rede de conexões, que deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e econômicas de forma rápida e eficiente. O que se vê, contudo, é o aumento da distância entre ricos e pobres, basta olhar nossos irmãos africanos e os grupos étnicos dentro de nosso país.
Outra característica importante da globalização é a busca pelo barateamento do processo produtivo pelas indústrias. Muitas delas produzem suas mercadorias em vários países com o objetivo de reduzir os custos. Optam por países onde a mão-de-obra, a matéria-prima e a energia são mais baratas. Estas empresas que trabalham na lógica do mercado sabem que a matéria-prima sai do planeta e sua utilização de modo desordenado é uma ameaça à própria sobrevivência das espécies; para elas, no entanto, não importa o mau uso da matéria-prima, o que vale é o lucro.
Outro aspecto é a cultura suburbana, fruto de grandes migrações; a migração, por sua vez, foi acelerada com a globalização, em sua maioria pobre. Nesta cultura, os problemas de identidade e pertença, relação, espaço vital e lar são cada vez mais complexos. Jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir em seus estudos, nem de entrar no mercado de trabalho para se desenvolver e constituir uma família; muitos pobres, desempregados, migrantes, deslocados, agricultores sem terra, aqueles que procuram sobreviver na economia informal; meninos e meninas submetidos à prostituição infantil ligada, muitas vezes, ao turismo sexual; também as crianças atingidas pelo aborto, são as primeiras vítimas. Milhões de pessoas e famílias vivem na miséria e inclusive passam fome.
A globalização, como se vê, não está muito preocupada com a solidariedade. Já não se trata simplesmente do fenômeno da exploração e opressão, mas de algo novo: da exclusão social. Com ela, a pertença à sociedade na qual se vive fica afetada, pois já não se está abaixo, na periferia ou sem poder, mas se está de fora. Os excluídos não são somente “explorados”, mas “supérfluos” e
“descartáveis”.
O que a Conferência do clima em Copenhague não quis discutir foi exatamente estes aspectos, colocar o dedo na ferida e dizer claramente que grandes indústrias e seus interesses exploratórios precisam ser detidos e que os bens concentrados nas mãos de poucos carecem ser distribuídos.
Enquanto a ganância (e não o verdadeiro desenvolvimento) for a base do mercado o planeta não verá futuro!
 
Pe. Crispim Guimarães
Assessor de Comunicação e
Coordenador de Pastoral da Diocese de Dourados.


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