Quando jovem ouvia os mais velhos dizerem que a vida começava aos quarenta. Imaginava que essa máxima quisesse dizer que era a partir dos 40 que se começava a desfrutar das delícias da vida, graças às experiências somadas. Besteira! A vida começa a cada manhã que desponta.
A vida que se inicia aos quarenta (ou cinquenta) é aquela em que a gente tem que dedicar boa parte de nosso tempo correndo atrás de médicos das mais variadas especialidades. E são tantas. Existe até uma piadinha meio sem graça, mas que ilustra como a sabedoria popular procura conviver com essa profusão de modalidades médicas. O cidadão foi ao médico especializado em dor no dedão do pé, esperou uma hora no consultório, mas ao entrar foi informado do equívoco que cometera; aquele médico era especialista em dor de dedão de pé direito e o paciente se queixava do esquerdo.
Brincadeiras à parte, a verdade é que toda ciência busca aprimorar-se por via da especialização, e com a medicina não seria diferente. São inúmeras as especialidades médicas, e surgem sempre novas modalidades, algumas com nomes incompreensíveis para os leigos. E os exames, que já se tornam rotineiros para detectar moléstias até pouco tempo completamente desconhecidas ou confundidas? Quantos haveriam?
As pessoas com mais de quarenta (ou cinquenta), bem sabem que é em torno dessa idade que começa a grande conspiração das doenças em relação ao organismo. Portanto, ao menos uma vez por ano devemos fazer uma espécie de revisão geral. Olhos, ouvidos, garganta, coração, aparelhos digestivo, circulatório, urinário, enfim um check-up, porque, como já dizia minha avó: é melhor prevenir do que remediar. É um absurdo que muitos de nós, brasileiros, sejamos mais atenciosos com as revisões de nossos carros que com a de nosso próprio corpo.
Como a média de vida do brasileiro está aumentando significativamente - se não me falha a memória, já estamos beirando os 73 anos - imagine o caro leitor como está aumentando também a procura por médicos. Um check-up anual leva o paciente a fazer uma peregrinação, passando por muitos e diversos consultórios. Nesse circuito entre médicos e laboratórios, com certeza, o paciente verificará - além da nefasta ação do tempo sobre o próprio organismo - que os consultórios estão superlotados e que os médicos já não estão conseguindo atender à sua antiga clientela, formada ao longo dos anos.
Esses consultórios, repletos hoje em dia em Dourados, são réplicas dos de Campo Grande, dez anos atrás, e que persistem até hoje. Até pouco tempo, toda a população do MS e muitas vezes de países vizinhos procuravam Campo Grande por ser o maior e mais bem preparado centro médico-hospitalar num raio de mais de seis centenas de quilômetros.
Atualmente, a pressão que era exercida sobre a rede médico-hospitalar de Campo Grande foi dividida em grande parte com Dourados, que tem exercido o papel de metrópole regional também em vários outros setores. Esse desafogo para Campo Grande e o aumento da demanda para Dourados, não tem somente a ver com a condição de metrópole regional da cidade, mas também com a qualidade do atendimento médico-hospitalar, que melhorou sensivelmente nos últimos anos devido a criação do Curso de Medicina no campus do CEUD/UFMS, hoje parte integrante da UFGD.
Implantado em 2000, o curso de Medicina da UFGD está completando uma década de existência. Nesses dez anos, como esperávamos, ele provocou mudanças significativas na estrutura médico-hospitar da região. O curso em si e a Universidade como um todo trazem para dentro da cidade o conhecimento atualizado, as técnicas mais avançadas. Mesma face da moeda, dada a grande concorrência e rigor na seleção, o curso recebe alunos muito bem preparados que provocam a necessidade dos professores se atualizarem constantemente.
Os médicos em geral, mesmo não atuando no curso, obrigam-se também ao aperfeiçoamento constante porque nesse mundo tão concorrido, ficariam desatualizados em relação aos próprios formandos. Forma-se um círculo virtuoso com grandes benefícios para todos os segmentos da cidade, especialmente para os pacientes.
E eu, particularmente, que era diretor do CEUD/UFMS quando foi criado o curso de Medicina em Dourados, hoje sou duplamente grato. Primeiro a todos os cidadãos e entidades que empreenderam a grande luta para a implantação do curso; segundo, pela atenção que tenho recebido no atendimento médico nessa minha revisão de 62 mil quilômetros, felizmente, ao que tudo indica bem rodados.
Suas críticas são bem vindas: biasotto@biasotto.com.br
Wilson Valentim Biasotto *
* Membro da Academia Douradense de Letras. Prof. Aposentado CEUD/UFMS