A organização japonesa Nihon Hidankyo, formada por sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki e que luta pela abolição das armas nucleares, venceu o Prêmio Nobel da Paz 2024, anunciado na manhã da última sexta-feira, dia 11 de outubro.
A escolha, que surpreendeu analistas e casas de apostas, foi motivada pela escalada de guerras no mundo, como as da Ucrânia, Oriente Médio e Sudão, acompanhadas de ameaças crescentes de uso de armas nucleares (leia mais abaixo).
Também conhecida como Hibakusha, a organização premiada é um movimento popular de sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki — em 1945, os Estados Unidos lançaram as bombas sobre as duas cidades japonesas, matando entre 120 mil e 200 mil pessoas e marcando o fim da Segunda Guerra Mundial.
O uso de armas nucleares, que virou um tabu após Hiroshima e Nagasaki, voltou a ser considerado em dois dos três grandes conflitos atuais — as guerras da Ucrânia, no Oriente Médio e no Sudão. A retirada dos EUA do acordo nuclear que mantinha com o Irã em 2018 também já havia alimentado o debate.
No Oriente Médio, o envolvimento do Irã — que em setembro atacou Israel com mísseis em defesa do Hezbollah e do Hamas, financiados por Teerã — fez com que o regime do país considerasse abertamente a possibilidade de criar um programa nuclear militar.
O Irã tem ogivas nucleares, mas, após chegar a um acordo histórico com os EUA, se compromete a utilizar as usinas apenas para fins civis. Em 2018, no entanto, o então presidente norte-americano, Donald Trump, se retirou do acordo.
Na semana passada, o Parlamento iraniano anunciou que havia recebido um projeto de lei do gverno para a "expansão da indústria nuclear do Irã", que ainda irá a votação.
Na guerra da Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, já falou de ameaça nuclear contra o Ocidente. diversas vezes. E sua aliada Coreia do Norte, tecnicamente ainda em guerra com a Coreia do Sul, também afirma constantemente ter ogivas nucleares.
Especialistas apontam ainda que Israel tem seu próprio programa nuclear militar, mas o país nunca se pronunciou sobre a suspeita.
"Os esforços da Nihon Hidankyo têm coloaborado para manter o tabu das bombas nucleares. Atualmente, no entanto, esse tabu está ameaçado. Esta é uma forma de lembrar o mundo da necessidade do desarmamento nuclear", disse o comitê do Nobel.
Segundo a organização, a decisão deste ano foi motivada "por todos os conflitos acontecendo no mundo neste mundo". "Isto é um lembrete para que a gente se lembre que essas armas nunca mais devam ser usadas", disseram os organizadores.
"O prêmio foi um reconhecimento à Nihon Hidankyo por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar por meio de depoimentos de testemunhas que armas nucleares nunca devem ser usadas novamente", disse o comitê.
A Nihon Hidankyo foi comunicada sobre o prêmio através da imprensa. Após o anúncio, o diretor da organização, Toshiyuki Mimaki, falou com a imprensa em Hiroshima, onde fica a sede do grupo.
"(O prêmio) Será uma grande força para lembrar ao mundo que a abolição das armas nucleares pode ser alcançada", disse o diretor, que é sobrevivente do bombardeio em Hiroshima.
A organização é totalmente formada por sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki.
Quem vence o Nobel da Paz recebe um prêmio de US$ 1,1 milhão (cerca de R$ 6 milhões), além de um diploma e uma medalha de ouro.
O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, disse ter achado "extremamente significativo" que o prêmio deste ano tenha sido concedido à organização de seu país, "que há muito tempo trabalha pela abolição das armas nucleares".
No ano passado, a premiação foi concedida à ativista iraniana Narges Mohammadi, voz da revolução feminina histórica de seu país. Mohammadi foi a 19ª mulher a receber o Nobel da Paz, que já foi concedido a 92 homens.