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ARTIGO

No País dos banquelas

15 janeiro 2016 - 15h50

Nos Governos, nas redações dos jornais, nas empresas, nas famílias, enfim, em qualquer forma de organização humana, as pessoas, individualmente, se separam ou se unem em grupos de interesses, motivados por afinidades afetivas, ideológicas, comportamentais etc.

O convívio prolongado ganha, assim, um dinamismo autogestor. Os valores passam a ser intercambiados com maior intensidade no tempo e no espaço. Isso é o que se chama, grosso modo, de “processo civilizatório”.

Não querendo generalizar demasiadamente, é natural que a dinâmica intrínseca dos relacionamentos termine colocando em lados opostos as famosas turmas do “bem” e do “mal”. Somos “bons” ou “maus” aos olhos dos outros, lógico. Mas há momentos em que temos que limitar as relativizações, principalmente quando se trata de referências morais ou éticas.

Neste aspecto, há que se ter livre arbítrio para escolher o lado “correto”. Por exemplo: em qualquer circunstância (justificada ou não) a corrupção (entendida aqui como roubo do dinheiro público) será sempre condenável do ponto de vista ético.

O corrupto faz uma escolha consciente quando quer otimizar ganhos fora dos critérios da justiça e das regras meritocráticas. Ele não acredita no sistema de compensações inclusivas e aposta no atalho. Se tal fato é condenável judicialmente, isso acontece porque a corrupção prejudica o conjunto social e atende apenas interesses de elites exclusivas. Por isso, nada mais justo que haja punições exemplares para quem pisou na bola. Principalmente num País patrimonialista, onde negócio público e privado não se diferenciam.

Nos locais de trabalho ou mesmo no ambiente doméstico, sobretudo quando há uma estrutura hierárquica estabelecida, os dois lados (“bem e mal”) estão sempre em conflito para estabelecer certa hegemonia por meio de alguns consensos.

É importante considerar também que indivíduos não são estáticos nem os comportamentos são retilíneos – por isso, é possível e aceitável que, em determinadas circunstâncias, quem é do “bem” passe a ser do “mal” e vice-versa, embora na esfera da corrupção o indivíduo possa perfeitamente se amoldar à medida que há pesos e contrapesos em decorrência de sua prática.

No caso brasileiro, lideranças emblemáticas não teriam necessariamente de ser encarnadas por indivíduos localizados nas esferas de poder, mas por grupos de controle, capazes de arbitrar as estratégias das instituições, de modo que a ação combinada e pautada por um sentido de correção, generosidade e solidariedade fizesse pender a balança pelo menos para o lado das virtudes republicanas.

Infelizmente, não é isso que acontece. Tempos atrás o Brasil se iludiu com os mocinhos de plantão. Imaginava-se que Lula & companheirada pertencesse à “turma do bem”. Hoje se sabe que isso era pensamento mágico.

Nas esferas públicas e privadas, os dados da realidade são muito parecidos. Chefetes, em sua grande maioria, sempre dão preferência àqueles dispostos a fazer qualquer “maldade”, mantendo sempre à distância os que impõem limites às ações de caráter duvidoso.

Por mais que neguemos, há estranhos fios interligando mundos separados e diferentes, aproximando-os e tornando-os semelhantes, mostrando que as atitudes dos que habitam as esferas de comando são muito parecidas com o nosso cotidiano mais comezinho.

Quem deseja fazer uma falcatrua não convida e nem se aproxima de alguém reconhecido pela honestidade. Ao contrário, o corrupto sabe identificar o semelhante (gambá cheira gambá, lembram-se?) e, assim, consegue fortalecer suas posições e criar privilégios crescentes nos grupos de interesse.

É dessa maneira que o setor público tem sido sistematicamente saqueado por esquemas extremamente organizados e complexos. Nada é mais forte do que interesses comuns lastreados na vontade de se enriquecer ilicitamente. Convenhamos, no mundo de hoje, discutir bons propósitos é menos interessante do que combinar uma transação no qual todos podem ganhar dinheiro e se fartar nesse mundo de consumo e hedonismo.

O fenômeno cultural é totalizante. Nada acontece por acaso. Diz-se que o exemplo vem de cima quando se deseja apontar as origens dos desacertos éticos do País. Pode ser verdade, mas é preciso observar também como este exemplo é reproduzido cá embaixo e como, por meios complicados, ele é justificado de maneira sistêmica na reprodução do todo.

Participamos do mesmo processo, mesmo quando o negamos. O problema é que estamos cansados de ver a “turma do mal” ganhando todas. Sonhamos para que haja reversão de expectativas para que possamos ter o consolo de que a existência é uma coisa parecida com aqueles filmes previsíveis de Hollywood, em que mocinho vence sempre o bandido. Na vida real, não é assim que acontece. Por isso, torcemos pelo Juiz Sérgio Moro.

Articulista*

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