Apesar da grande adesão da população à vacinação, a maioria dos especialistas em COVID-19 estão convictos de que a liberação de grandes aglomerações, especialmente o carnaval brasileiro, é totalmente desaconselhável. O risco de um novo surto e de um retorno à contaminação descontrolada é altíssimo. Essa é a posição, por exemplo, do epidemiologista Paulo Menezes, coordenador do Comitê Científico, que auxilia o governo de São Paulo nas decisões sobre a pandemia. Para o médico, o avanço da imunização no Brasil não garante a segurança em eventos que reúnem multidões.
"Ainda é precoce pensar em uma situação de multidões na rua, com aglomeração, mesmo que seja daqui a três meses. Não é o momento de pensar nas grandes aglomerações do Carnaval, que movimenta milhões e milhões de brasileiros - além de pessoas de fora do país", declarou Menezes. "O avanço da cobertura vacinal no estado de SP é exemplo para o mundo, juntamente com outras medidas que têm garantido o nosso sucesso até o momento. [Mas] não podemos nos enganar e dizer que estamos livres da pandemia, livres do coronavírus. Ele está circulando, e por isso devemos ter cautela." (Fonte: noticias.uol.com.br)
Até agora, pelo menos 70 cidades do estado de SP já cancelaram as festas oficiais de rua por causa da pandemia. São alguns gestores municipais que ainda estão com o mínimo de juízo em dia. Deveriam ser copiados pelos demais. No entanto, o governo estadual diz que manterá a liberação e a capital projeta "o maior carnaval da história". Decisão totalmente contraditória com a postura de "ciência" e de preservação da saúde pública que tanto alegaram defender, não há muito tempo atrás, como justificativa a todo tipo de restrições, proibições e trancamento geral (o famigerado lockdown), medidas arbitrárias que arruinaram a economia do país e a vida de milhares de famílias brasileiras.
O epidemiologista pontua que há uma diferença entre eventos fechados de carnaval, com controle de pessoas, e a festa de rua. "Não vejo nenhuma diferença entre um evento no Sambódromo e outros eventos. O que a gente tem que discutir são as aglomerações não controladas: o Carnaval reúne milhões e milhões de pessoas no país inteiro, circulando de lá pra cá e de cá pra lá." E permitir essa situação, além de extremamente irresponsável e inconsequente, é incoerente com as demais medidas que foram e ainda estão sendo adotadas até então.
Prevenir não é melhor que remediar?
Lembram das últimas eleições? Flexibilizaram as restrições para fazer campanhas, como se o vírus tivesse dado uma folga, e qual o resultado? Surtos e mais surtos depois, com fechamentos e mais fechamentos de tudo e de todos. Vão fazer a mesma coisa de novo? A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou alerta nesta terça-feira de que a “quarta onda” da COVID-19 que afeta a Europa deve ser uma tendência global. “O mundo, na verdade, está entrando em uma quarta onda, mas as regiões tiveram comportamento diferente em relação à pandemia“, disse a diretora-geral adjunta de acesso a medicamentos da entidade, Mariângela Simão.
“Me preocupa bastante quando vejo no Brasil a discussão sobre o carnaval. É uma condição extremamente propícia para o aumento da transmissão comunitária”, declarou Mariângela. Ela teme uma disseminação descontrolada do vírus. Mesmo com a vacinação e melhora no quadro geral da pandemia no Brasil, a transmissão segue forte. As pessoas estão confundindo a vacina com proteção e liberação total, mas o risco continua. Existe a possibilidade de novas variantes mais agressivas surgirem, mesmo com a maioria dos brasileiros vacinados. (Fonte: redebrasilatual.com.br)
Na Europa, países com taxas de vacinação superiores às do Brasil, como a Alemanha, o cenário atual é o pior desde o início da pandemia. Não existe vacina 100% eficaz. Como o vírus tem potencial de ser transmitido entre vacinados, menos mortes ainda serão muitas em um cenário de descontrole generalizado. “A ressurgência de casos na Europa após a flexibilização das medidas sociais e de saúde pública é uma realidade inescapável. Só a vacinação não basta". Ou seja, é preciso continuarmos adotando as boas práticas de prevenção, principalmente a de evitar aglomerações. Sugestão: lembram daquele refrão "fica em casa e a economia a gente vê depois", que tal agora o "fica em casa e a folia a gente vê depois"?
O médico sanitarista Gonçalo Vecina, ex-diretor da ANVISA, conversou na última sexta-feira com o jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual e TVT, sobre os rumos da pandemia no Brasil e no mundo. Segundo o especialista, a pandemia só acabará quando o vírus deixar de circular em outros países. Ele destaca que a ideia de o Brasil autorizar o Carnaval em 2022 é a mais doida que poderia existir.
Portanto, diante dos novos surtos em outros países e de todas as alegações científicas que sugerem mantermos cautela, ou seja, não autorizar algo tão temerário como a gigante aglomeração de um carnaval, o que estão pretendo as autoridades estaduais e municipais com essa liberação? "Pão e Circo" ao povo, à custa de mais mortes? Não são muitos destes senhores que acusam o Presidente de "genocida'' e que se dizem "em nome da ciência"?
A decisão está nas mãos de quem?
O Presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que, por ele, não haveria Carnaval no Brasil em 2022. A declaração foi dada após o chefe do Executivo ser questionado pela Rádio Sociedade Bahia sobre a quarta onda que atinge a Europa e a ameaça de um possível novo surto no país. “Por mim não teria carnaval. Só que tem um detalhe: quem decide não sou eu. Segundo o Supremo Tribunal Federal, quem decide são os governadores e prefeitos. Em fevereiro do ano passado, ainda estava engatinhando a questão da pandemia, pouco se sabia, praticamente não havia óbitos no Brasil, eu declarei emergência, mas os governadores e prefeitos ignoraram, fizeram o carnaval. As consequências vieram. E alguns tentaram imputar a mim essa responsabilidade. Todo o trabalho de combate à pandemia coube aos prefeitos e aos governadores. O que coube a mim? Mandar recursos”, justificou o chefe do Executivo.
Nada mais sensato. A posição do Presidente é contra a realização da festa em 2022, em virtude de um possível aumento na disseminação do vírus, evitando também a justificativa de implantação de novas medidas restritivas pelos estados e municípios. “Estou vendo que alguns países da Europa estão retomando medidas de lockdown. Se tiver isso de novo no Brasil, vai quebrar de vez a economia em nosso país”, declarou Bolsonaro. (Fonte: jovempan.com)
O comentarista político, Jorge Serrão, assim escreveu em seu artigo: "Lá fora, teme-se a quarta onda da pandemia. Aqui, vamos para a fase do “liberou geral”? Paradoxo ou hipocrisia? Governadores e prefeitos que defenderam medidas burras (como lockdown, restrições ao direito de ir e vir, “fique em casa, a economia a gente vê depois”) agora organizam o Carnaval 2022. Trata-se da maior festa popular do país, caracterizada pelas aglomerações, extrema proximidade entre as pessoas, com abraços, beijos e relações sexuais. Ah, tem a máscara… Mas a que vale é a carnavalesca, e não aquela que supostamente protege alguém de contágio. A parada é temerária! Tanto que a turma da galhofa nas redes sociais já sugeriu ao presidente Bolsonaro: ou ele libera o Carnaval para que o STF proíba, ou ele proíbe o Carnaval para que o STF libere…"
O carnaval é bom para QUEM?
Alguns podem alegar os interesses econômicos e sociais atrelados ao Carnaval. Mas não seria desproporcional a medida de beneficiar esse setor agora para depois prejudicar todos os demais setores (e vidas) ao longo do ano? Uma outra reflexão, que daria outro artigo, mas que é importante destacar: o Carnaval de multidões realmente faz tanto bem assim à economia e à sociedade brasileira? Entram nessa conta todos os custos e danos que ele provoca? Todos os tristes números que já conhecemos, mesmo antes da COVID-19: drogas, doenças, crimes, mortes, acidentes de trânsito, dentre outros problemas que atingem níveis alarmantes no carnaval.
Os fatos estão aí, gritando, mais uma vez! Especialistas não se cansam de informar que, mesmo com a ampla vacinação, é necessário mantermos os cuidados e protocolos básicos, aqueles aos quais já nos adaptamos: máscara, álcool em gel, evitar aglomerações etc. Mesmo assim, estados e municípios, que até ontem estavam tocando o terror fechando lojas e escolas, impedindo as pessoas de trabalhar, multando, prendendo etc, tudo feito alegadamente "em nome da ciência", agora estarão liberando geral baladas, festas de fim de ano e carnaval? A mesma ciência, que justificou uma série de arbitrariedades lá atrás, agora vai ser desprezada? E depois se tivermos um novo surto, uma nova onda (como já está, de fato, acontecendo em outros países), vão querer fechar tudo aqui de novo? E jogar novamente a culpa no governo federal? Disputas políticas às custas de mais vidas? Senhores governadores e prefeitos, como assim?
A pandemia começou aqui por meio de um Carnaval. Lembra Jorge Serrão, para finalizarmos: "No Carnaval de 2020, a onda de Covid começou trazida por estrangeiros e brasileiros que vieram da Europa, principalmente da Itália. Muitos italianos — como é hábito anual — pularam o Carnaval em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e outras capitais e cidades litorâneas do Nordeste. Quem fez a festa, de verdade, foi o Covidão. Vamos repetir a dose macabra?"
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