Uma pesquisa desenvolvida no Ambulatório de Oftalmologia do HU (Hospital Universitário), da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) traça o perfil epidemiológico da saúde ocular da população da Grande Dourados e destaca a importância do hospital na formação de futuros profissionais de saúde. Sob a coordenação da oftalmologista Elimar Mayara de Almeida Menegotto, o estudo contou com a participação dos acadêmicos de medicina Guilherme Okoti de Melo, Layala Stefane de Paula Barbosa, Ananda Mireille Mendes de Souza, Guilherme Kenji Asato Oliveira e a recém-formada Ana Letícia Marcon, que uniram esforços para integrar conhecimento teórico e prático em prol da saúde pública na região.
Guilherme, acadêmico do 6º ano de medicina, compartilhou sua motivação para o projeto: "O projeto surgiu a partir de uma curiosidade, uma vontade minha de produzir e apresentar uma pesquisa num congresso grande brasileiro, no caso o Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que é a principal referência na área no nosso país, junto do meu sonho de me tornar um médico oftalmologista." Utilizando o Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU), a pesquisa revisou 1.889 prontuários de pacientes atendidos ao longo de 2023, com o objetivo de traçar o perfil epidemiológico dos atendidos no ambulatório de oftalmologia do HU de Dourados.
Entre os principais achados do estudo, destacam-se as taxas de absenteísmo, especialmente entre a população indígena. Absenteísmo refere-se à ausência dos pacientes em consultas agendadas, e a pesquisa revelou que, entre os pacientes atendidos pelo hospital, "o absenteísmo dos brasileiros indígenas é de 45%. O que comparado com o absenteísmo relacionado aos brasileiros não indígenas é um absenteísmo de apenas 17%". Guilherme explica a importância desse dado: "Esse é um dos porquês que ficam da nossa pesquisa", já que a população indígena é relevante na região, mas enfrenta barreiras para acessar o atendimento oftalmológico.
Além de identificar diagnósticos como pterígio, metropia, catarata e glaucoma, o estudo também revelou a necessidade de melhorias estruturais para atender adequadamente casos como catarata e glaucoma. A pesquisa também abordou questões de equidade no atendimento, evidenciando que muitos pacientes negligenciam os cuidados com a saúde ocular, agravando suas condições antes de buscar tratamento. "A população no geral negligencia um pouco a saúde ocular, ela deixa para a última hora [...] só quando está precisando muito, não está enxergando mais ou precisa de um laudo para trabalhar, vai buscar um serviço especializado", reflete Guilherme, que aponta a educação em saúde como uma estratégia crucial para melhorar esse quadro.
A participação no Congresso Brasileiro de Oftalmologia foi, para Guilherme, um marco em sua formação: "Participar do Congresso Brasileiro de Oftalmologia foi uma experiência incrível para mim. Eu tinha poucas dúvidas de qual área eu queria seguir depois que terminasse a graduação em medicina, mas acabou sendo uma afirmação para mim. Eu afirmei o meu desejo de seguir na oftalmologia", garantiu. No congresso, ele teve a oportunidade de expandir seu conhecimento e construir uma rede de contatos profissionais, aproximando-se de seu objetivo de se tornar oftalmologista.
Desta forma, a pesquisa do HU não apenas contribui para o desenvolvimento científico da região, mas também fortalece a formação dos futuros profissionais de saúde, como Guilherme, que vivenciam a prática da pesquisa desde cedo. "A ideia é não finalizar por aqui a pesquisa", diz Guilherme, que já planeja expandir o estudo para um período mais longo de análise, a fim de aprofundar os resultados obtidos e buscar melhorar ainda mais o atendimento à população.