Neste domingo (15), Itaporã foi palco de uma celebração rara e memorável: o centenário de Ernesto Cançado Vieira. Com a presença de primos, sobrinhos e parentes de diferentes gerações, que se reuniram para homenagear o homem que não apenas presenciou transformações ao longo das décadas, mas também faz parte da história viva de Mato Grosso do Sul.
Nascido em Ponta Porã no dia 13 de setembro de 1924, Ernesto nunca se casou e nem teve filhos. Sua história está entrelaçada com a do Estado. Seu avô, Manoel Lopes Cançado, conforme consta em relatos de historiadores de MS foi o pioneiro a chegar nessa região, vindo em 1888 de Uberaba (MG) junto com os conterrâneos mineiros Vicente, Francisco e Antônio Vicente de Azambuja. Eles povoaram as terras que, décadas depois, se transformariam no município de Dourados.
“Quando eu vim de Ponta Porã para cá, Dourados era um lugar completamente diferente do que vemos hoje e teve o primeiro nome como 'Patrimônio Novo'. Onde hoje está a Igreja do Relógio, antigamente era um cercado de pasto, repleto de vacas leiteiras, pertencente ao senhor Orlando de Almeida, vindo do Rio Grande do Sul com meu cunhado Manoel Nunes Nogueira", recorda Ernesto, que viveu as muitas mudanças que a região passou ao longo de um século.
O centenário, que hoje mora em Itaporã, traz consigo não só as memórias de uma vida que atravessou décadas de transformações sociais, políticas e econômicas, mas também o testemunho de quem acompanhou de perto o crescimento de um estado.
“A gente vivia no campo, longe de tudo, mas sempre com Deus no coração. Eu só cheguei até aqui por causa d'Ele”, afirmou Ernesto ao Dourados News.
Apesar de ter enterrado os pais, seus três irmãos e quatro irmãs – incluindo o gêmeo Ernestino, que faleceu aos 89 anos – Ernesto mantém uma vitalidade surpreendente.
"Já perdi muita gente, inclusive meu irmão gêmeo, mas Deus me deixou aqui por algum motivo", diz ele, refletindo sobre os mistérios da vida.
Parte do segredo de sua longevidade, ele revela, está na simplicidade de sua rotina. "Todo dia eu como arroz, feijão e carne. Não precisa de mais que isso. E o chimarrão com ervas medicinais, esse nunca pode faltar", conta, destacando também o hábito de caminhar longas distâncias.
Até os 93 anos, Ernesto andava vários quilômetros diariamente, mas agora, aos 100, limita-se a caminhar apenas o necessário. Mesmo assim, ele faz questão de manter sua autonomia: "Ainda faço tudo sozinho. Como, vou ao banheiro e tomo banho sem ajuda", diz com orgulho.
Foto de Ernesto quando era mais novo