Os líderes da cadeia produtiva do trigo, da panificação e do setor mandioqueiro afirmaram ontem ter chegado a um acordo, em Comissão Especial da Câmara dos Deputados, para anular a obrigatoriedade da adição de raspa de mandioca à farinha de trigo.A adição de 10% de fécula de mandioca a toda farinha de trigo consumida no país estava prevista no projeto de lei 4.679, que tramitava em caráter terminativo na Câmara.De autoria do presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC do B-SP), seria o primeiro projeto do tipo (que não requer votação em plenário) de sua gestão. Em 2001, Rebelo, então deputado, já tentara, sem sucesso, fazer passar algo semelhante.A maioria dos 29 deputados que decidiriam sobre a adição à farinha de trigo era ligada a Estados produtores de mandioca, segundo a Folha noticiou em 18 de junho. Procurado ontem, Rebelo não foi encontrado.Na prática, os deputados com interesses no setor mandioqueiro cederam às pressões dos principais membros da cadeia produtiva de pães, massas, biscoitos e seus derivados.No início da polêmica, o maior moinho do país, o Pacífico, ameaçou transferir para a Argentina um investimento de R$ 200 milhões caso o projeto fosse aprovado."A retirada da obrigatoriedade é uma conquista não apenas do setor de panificação mas também da população", disse Antonio Carlos Henriques, vice-presidente da Abip (Associação Brasileira das Indústrias de Panificação).A justificativa central para o projeto era incentivar a produção da mandioca e a agricultura familiar. Ao mesmo tempo, reduzir a dependência do trigo importado. Só neste ano, o Brasil deve importar 60% dos 10 milhões de toneladas de trigo que consumirá, ao custo de US$ 800 milhões.Henriques afirma que a obrigatoriedade comprometeria o tradicional pão francês. Sem que a adição seja impositiva, o setor de panificação, diz, poderá vir a criar agora o "pão brasileiro", que poderia ser produzido com amido de mandioca no lugar da farinha de trigo.