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Um mundo mais quente é um mundo com fome

10 dezembro 2012 - 14h45

Os preços dos alimentos dispararão e centenas de milhares de pessoas morrerão de fome se não se agir com urgência para concretizar reduções importantes nas emissões derivadas da queima de combustíveis fósseis. Segundo cientistas e ativistas, é isso que estava em jogo na 18ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 18), realizada na capital do Catar, cuja última sessão deveria ter se encerrado na sexta-feira passada mas se estendeu até o sábado.

As emissões de carbono já estão alterando o clima mundial, tornando mais daninhos eventos extremos como secas, tempestades e inundações. A agricultura e a produção de alimentos são muito vulneráveis aos impactos da mudança climática, segundo diversos estudos científicos.

“É muito estranho o fato de Doha não dar ênfase à segurança alimentar”, disse Michiel Schaeffer, cientista do Climate Analytics, à IPS. “Não há dúvida de que a mudança climática representa um risco importante para nossa capacidade de produzir alimentos”, afirmou.

Climate Analytics e o Potsdam Institute for Climate Impact Research Elaboraram para o Banco Mundial o estudo “Reduzir o calor: por que se deve evitar um aumento de quatro graus centígrados da temperatura mundial”, o qual alerta que muitas partes do mundo não poderão cultivar alimentos se as temperaturas planetárias aumentarem quatro graus.

O informe também alerta que a humanidade segue rumo a um mundo quatro graus mais quente, no qual haverá ondas de calor sem precedentes, secas severas e inundações importantes, com sérios impactos sobre os ecossistemas e a agricultura. A temperatura do solo aumentará, em média, entre quatro e 10 graus, o que o tornará extremamente quente para muitos cultivos alimentares cruciais.

Grandes partes de África, China, Índia, México e sul dos Estados Unidos reduzirão sua produção por esse motivo, alertou Schaeffer. Também haverá mudanças significativas nos padrões de chuvas e maiores níveis de evaporação. Com apenas 0,8 graus de aquecimento já houve secas generalizadas, inundações e outros eventos extremos vinculados à mudança climática.

Os preços dos alimentos dispararão, já que grandes áreas do cinturão produtor de grãos nos Estados Unidos foram afetadas este ano por uma seca. No futuro, cada vez que houver eventos extremos em áreas produtoras de alimentos os preços dos mesmos voltarão a subir, disse Schaeffer.

As pesquisas mostram que mesmo com dois graus de aquecimento haverá sérios problemas de produção alimentar nos planos regionais. Se as temperaturas forem além de três graus, se tornará um problema mundial. Sem reduções importantes nas emissões derivadas de combustíveis fósseis, um mundo entre três e quatro graus mais quente enfrentará um enorme aumento da população. “Isto será catastrófico”, acrescentou o especialista.

As negociações estão “a milhões de milhas de onde necessitamos estar para inclusive ter uma pequena possibilidade de impedir uma mudança climática descontrolada”, disse Lidy Nacpil, da Jubilee South Ásia Pacific, uma rede de organizações para o desenvolvimento, de inspiração religiosa. “Não podemos voltar aos nossos países e dizer que permitimos que isso ocorresse, que condenamos nosso próprio futuro”, afirmou Nacpil em um comunicado em referência às negociações na COP 18.

Seyni Nafo, de Mali e porta-voz dos negociadores africanos, afirmou em um comunicado: “Os negociadores afrianos levam as mãos à cabeça em gesto de desespero, e perguntam por que deveriam ter se preocupado em participar das negociações se os países industriais continua nos arrancando mais demandas em troca de nenhum dinheiro ou compromisso. Este cinismo está em seu ponto mais duro nas negociações agrícolas”.

Sem maiores reduções nas emissões, isto prejudicára nossa capacidade de cultivar alimentos, disse Meena Reman, especialista em negociações da Rede do Terceiro Mundo, da Malásia. “Em Doha ainda há uma oportunidade de lutar por algo”, disse à IPS na sexta-feira.

Uma coisa necessária é o prometido financiamento por parte das nações industriais para ajudar as menos adiantadas a enfrentar os efeitos da mudança climática e a fortalecer seus sistemas de produção de alimentos. “As finanças para a adaptação são uma demanda-chave dos países em desenvolvimento aqui em Doha, nas negociações lcimaticas”, disse Doreen Stabninsky, professora de política ambiental no College of the Atlantic.

“Sem adaptação é provável que a produção alimentar mundial sofra perdas entre 14% e 30% nos três cultivos principais de primavera: trigo, milho e soja”, afirmou Stabinsky. Mesmo agindo rapidamente em matéria de adaptação, de todo modo haverá perdas entre 4% e 26%.

Em necessário começar a aumentar a diversidade de cultivos agora, para criar resiliência diante das condições climáticas extremas que os agricultores começam a enfrentar, disse Teresa Anderson, da Fundação Gaia, sócia britânica da Rede Africana para a Biodiversidade.

Os agricultores tradicionais têm centenas de tipos diferentes de sementes para diferentes condições, mas frequentemente estas são deixadas de lado, priorizando soluções tecnológicas para a segurança alimentar, como sementes híbridas e geneticamente modificadas, disse Anderson à IPS. “Estes agricultores podem ter uma tremenda diversidade, inclusive dentro da mesma variedade de milho, uma que germine antes ou floresça depois”, acrescentou.

Esse tipo de diversidade3 aumenta em boa parte as dificuldades de obter uma colheita decente, enquanto os modernos enfoques monoagrícolas apenas têm êxito em certas condições.

O segundo enfoque é o que levam adiante os grandes negócios agropecuários e os governos. Se para eles vai bem, não há dúvida de que será um enorme fracasso sobe as condições extremas da mudança climática, disse Anderson. “Não consigo entender por que as nações industrializadas reunidas em Doha não veem a urgência de tudo isso”, acrescentou.

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