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HISTÓRIA

Mineira Hipólita Jacinta é reconhecida no Livro de Heróis da Pátria

12 janeiro 2025 - 11h45Por Agência Brasil

“...e mais vale morrer com honra do que viver com desonra”. O trecho é da carta de Dona Hipólita Jacinta Teixeira de Mello que avisou o Padre Toledo da prisão de Tiradentes no Rio de Janeiro, em 1789. Hipólita é considerada a única mulher a participar de forma efetiva da Conjuração Mineira, o primeiro de uma série de movimentos que levaram à independência do Brasil de Portugal.

Agora, quase dois séculos após a sua morte em 1828, ela recebeu o reconhecimento como heroína brasileira. No último dia 6 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 15.086/2025, aprovada pelo Congresso Nacional, que inscreve o nome de Dona Hipólita no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Livro de Aço está no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O primeiro nome inscrito ali foi também de um inconfidente: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, incluído em 1989. Também estão no livro personalidades como Machado de Assis, Luiz Gonzaga, Zumbi dos Palmares e Maria Beatriz Nascimento.

“Ela transpôs o lugar, a fronteira mais proibida para a mulher até hoje, que é a fronteira da política, que é você ir para a praça pública e falar com voz própria. Olha o que ela está ensinando para as mulheres de hoje. A importância de ir para a praça, de ir para a cena pública, falar com a própria voz, e a voz dela, Hipólita, defende a liberdade, a democracia, a independência e a República. Não é pouca coisa”, diz a historiadora, pesquisadora, escritora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Heloísa Starling.

Os trabalhos de Heloísa incentivaram a valorização de mulheres como Hipólita e foi por conta deles, que o Museu da Inconfidência a incluiu no Panteão dos Inconfidentes, espaço que abriga os restos mortais dos participantes da Conjuração Mineira.

Hipólita foi a primeira mulher inconfidente a ter uma lápide no local, apenas em 2023. Logo em seguida foi proposto o projeto de lei que culminou, neste ano, na inclusão dela no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Hipólita Jacinta Teixeira de Melo nasceu em Prados (MG), em 1748. Ela fazia parte da elite de Vila Rica. Era filha de Clara Maria de Melo e Pedro Teixeira de Carvalho – grande fazendeiro da época.

Segundo o perfil disponível na página do Museu da Inconfidência, ela tinha uma personalidade forte, era destemida e uma grande intelectual. Ao contrário das mulheres de mesma classe econômica, ela estudava, falava outros idiomas e inclusive ajudava Tiradentes com traduções de livros que inspiraram a Conjuração.

A inconfidente possuía uma fazenda, chamada Ponta do Morro, onde tinha plantações, cultivava espécies de plantas que encontrava na mata e andava a cavalo para todos os cantos, já que era uma boa amazonas. Casou-se tarde para a época, aos 33 anos. De acordo com a historiadora Heloísa, porque nenhum homem queria assumi-la.

É autora da carta que avisava sobre a prisão de Tiradentes e orientava os conjurados a iniciarem o levante. Também escreveu diversos outros avisos e alertas aos companheiros. Ao fim da rebelião, Hipólita teve os bens apreendidos pelo governo, mas por conta da rede de contatos e das manobras para despistar os oficiais, conseguiu reavê-los quase integralmente.

“Qual foi a pena que eles tentaram impor a ela? Foi o esquecimento. E repara, uma coisa que é importante a gente pensar é que o esquecimento é pior do que a morte. Porque quando a pessoa morre, você leva com você ou a saudade ou a memória dessa pessoa. O esquecimento ele apaga, você nunca existiu. Então, o preço que a Hipólita pagou pelo que ela faz, pelo protagonismo na Conjuração Mineira, e por ser mulher, é ser esquecida”, diz a historiadora.   

Os trabalhos de Heloísa para resgatar essa memória da história brasileira estão dando frutos. “Ao introduzir um personagem nesse livro [dos Heróis e Heroínas da Pátria], significa que a República Brasileira está reconhecendo a importância daquele personagem não só para a nossa história, mas como referência para o país”, diz.

Heloísa conta ainda que quando Hipólita recebeu um lugar no Panteão da Inconfidência, em 2023, o estilista Ronaldo Fraga fez um estandarte em homenagem a ela e o apoiou em frente a lápide de Tiradentes. A historiadora então brincou: “Tiradentes vai ficar nervoso”. A cantora Zélia Duncan que também estava presente, logo rebateu: “É bom ele já ir se acostumando com a presença da Hipólita”.

Agora, Tiradentes, que foi o primeiro inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, terá também que dividir este espaço.

Orgulho para Prados

O reconhecimento de Hipólita como heroína foi comemorado pela prefeitura da cidade natal dela, Prados.

“Para Prados, esse momento tem um significado especial. Ele destaca o papel da cidade como um berço de personagens que ajudaram a moldar a história do Brasil. A inclusão de Hipólita no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria reforça a importância da valorização da nossa cultura e memória histórica”, diz uma publicação em rede social.

Na cidade, antes mesmo dos reconhecimentos recentes, foi erguido um monumento em homenagem a ela. O monumento registra a medalha da inconfidência póstuma recebida por ela em 1999, a pedido da então procuradora de Minas, Cármem Lúcia, atual ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), que pediu a homenagem ao então governador Itamar Franco.

Rio de Janeiro-12/01/2025  Mais vale morrer com honra do que viver com desonra

Monumento em homenagem à inconfidente Hipólita Jacinta - Foto /Museu da Inconfidência

O biólogo Matteus Carvalho Ferreira, morador de Prados, acredita que o monumento na praça central da cidade, instalado em 2000, contribuiu para que a população local buscasse conhecer melhor a história de Hipólita Jacinta.

Segundo ele, foi o que lhe despertou, desde a infância, a curiosidade sobre a inconfidente. Do monumento, passou a buscar outros pontos de referência ligados à figura histórica.

Matteus conta que, pelas trilhas da Estrada Parque Passos dos Fundadores, situada aos pés da Serra São José, é possível acessar as ruínas da Fazenda Ponta do Morro, que pertenceu à Hipólita e que foi palco de diversas reuniões dos inconfidentes.

 

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