O governo brasileiro não quer perder tempo nem a oportunidade de ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos no mercado de carne bovina com a descoberta do primeiro caso da doença de vaca louca no território americano. Mas as autoridades sabem que muitos obstáculos terão de ser superados para que o País alcance os mercados desabastecidos, como Japão, Coréia do Sul e os próprios Estados Unidos. Por isso, a primeira ofensiva começará a ser desenhada na próxima segunda-feira pelo Ministério da Agricultura, junto com os produtores nacionais. A intenção é detectar os pontos fracos do País diante do mercado externo, afirma o consultor e ex-secretário do ministério, Enio Marques, que participará da reunião com o governo segunda-feira. "A oportunidade do Brasil é clara, mas há algumas barreiras que precisam ser derrubadas para provar que o maior exportador de carne do mundo também tem o melhor produto do mercado." Para isso, analisa Marques, é preciso ter agilidade para implementar uma política sanitária - o ponto central a ser atacado na reunião - capaz de derrubar restrições comerciais como as impostas pelos Estados Unidos e Japão. Hoje o Brasil não pode exportar carne para esses dois países, os maiores importadores do produto. Como os animais brasileiros são vacinados contra a aftosa, os americanos exigem uma avaliação de risco da doença. Esse documento já foi enviado há cerca de seis meses aos Estados Unidos, mas até agora não foi publicado, comenta Marques. O problema é que, a partir da divulgação, leva-se cerca de um ano para passar por todos os trâmites legais. "Este é o momento de o governo promover um esforço para provar que a vacinação dos bois é feita por causa de países vizinhos que não vacinam seus animais", afirma o coordenador da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo, Heinz Otto. Segundo ele, o Estado de São Paulo, por exemplo, não registra nenhum caso de aftosa desde 1996. Apesar dos obstáculos, os estrangeiros têm olhado com atenção o potencial brasileiro, principalmente por causa da qualidade da carne. Isso porque a imensa maioria dos animais criados no País é engordada em pasto e não em confinamento, onde o boi é alimentado com ração. Esse fator pode ser um trunfo para o Brasil nos demais mercados importadores que deixaram de comprar carne americana. Desde a descoberta do caso de vaca louca, 32 países, até quarta-feira, mantinham proibição de importação de carne bovina dos Estados Unidos. Mas alguns concorrentes também devem entrar na ofensiva por esses mercados. Além dos vizinhos sul-americanos, a Austrália está no páreo e não enfrenta restrições sanitárias. Isso sem levar em conta que o país já exporta para Japão e Estados Unidos. Na avaliação de Marques, no entanto, a capacidade de aumento de produção da Austrália é pequena diante do potencial brasileiro. "Por isso, o Brasil precisa investir bastante para se prevenir contra outros perigos e doenças. Além disso, é preciso reunir todos os aspectos de desconfiança do consumidor e criar uma regulamentação em cima desses pontos", argumenta Marques.