Oficiais da FAB (Força Aérea Brasileira) preparam, na base aérea de Brasília, a decolagem do avião Hércules C-130 que irá para Paramaribo, capital do Suriname, buscar cerca de 20 brasileiros vítimas do violento ataque ocorrido na cidade de Albina, na noite de Natal.
Segundo informações de testemunhas, quilombolas surinameses, chamados de 'marrons', atacaram cerca de 200 brasileiros e chineses que viviam na região de Albina, a 150 km de Paramaribo, muitos deles ligados ao garimpo ilegal, na noite de Natal. O crime aconteceu depois de um brasileiro ter sido acusado de matar um surinamês. Pelo menos 25 pessoas ficaram feridas. Não há registro oficial de mortes, e o governo brasileiro pede cautela na definição sobre um número de desaparecidos.
Ontem (29), o MRE confirmou que brasileiras foram estupradas durante o ataque em Albina. O total de mulheres violentadas está entre dez e 20 e inclui estrangeiras, conforme o MRE. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores, o avião deverá decolar ainda na manhã desta quarta-feira para o Suriname com equipamentos médicos e uma equipe de um médico e duas enfermeiras. O trajeto de Brasília a Paramaribo dura em média cinco horas.
Deverão embarcar no avião os cinco brasileiros feridos no ataque que estão hospitalizados, incluindo um homem com risco de amputação de um dos braços em decorrência de cortes provocados por facão e outro com ferimentos graves na mandíbula. Outros 15 brasileiros também teriam manifestado interesse em deixar o Suriname. Os brasileiros serão levados de Paramaribo para Belém (PA), um trajeto que dura em média duas horas e meia.
No último domingo, um avião da FAB com os primeiros cinco brasileiros resgatados chegou a Belém.O padre José Virgílio da Silva, que dirige a rádio Katólica e deu assistência aos brasileiros vítimas do ataque, afirmou que há pelo menos sete desaparecidos --inclusive brasileiros. De acordo com relatos de brasileiros que moram no Suriname, quilombolas surinameses teriam matado e jogado os corpos das vítimas nos rios e matas da região.
Ontem, o MRE esclareceu que não nega a existência de desaparecidos, mas ressaltou que é comum, para aqueles que vivem na região de Albina e trabalham em garimpos no interior do Suriname e da Guiana Francesa, passar "semanas na floresta", sem comunicação. "Por esse motivo, é necessário aguardar antes de considerar "desaparecido" qualquer desses cidadãos', afirmou o MRE, em comunicado.
Segundo autoridades brasileiras, a maioria dos cidadãos que vive no Suriname é ilegal. Há informações de que, além de garimpo, eles também estejam envolvidos com prostituição e tráfico de drogas. Apesar disso, o ministro interino de Relações Exteriores, Antônio Patriota, negou que haja resistências da população e do governo surinameses aos brasileiros.