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ARTIGO

Eleições pelo Brasil: Como estamos?

12 outubro 2024 - 17h00Por Rodolpho Barreto

DOMINGO passado foi dia de eleição municipal. Teoricamente, é a eleição mais importante de uma república federativa, porque o município é a célula da nação, onde as pessoas vivem, trabalham, estudam, comem, dormem – e votam nos seus representantes mais próximos, prefeito e vereadores. Teoricamente, porque, na prática, somos uma república unitária, centralizada, concentrando tudo na União quando, ao contrário, deveria estar tudo nos 5.569 municípios. Imagine um corpo que só tenha coração forte, mas sejam fracos seus membros e células. Para o coração estar bem todo o resto precisa funcionar, do contrário, pode morrer... 

Uma questão pertinente: Existe segurança de que o anunciado pela contagem oficial reflete a verdade, a realidade dos votos que foram digitados? Ou mais uma vez nos restam dúvidas, como restaram nas eleições anteriores? Eis uma reflexão sobre eleições que sempre devemos fazer se nos julgamos verdadeiramente "democratas", ainda mais diante de todos os escândalos recentes envolvendo "o sistema" que nos rege. O fato é que não se entende como é feita a apuração, que deveria ser transparente (contagem pública dos votos), como indica o artigo 37 da Constituição (princípio da publicidade dos atos da administração pública).

HÁ POUCO tivemos uma demonstração de um processo eleitoral, que é mais claro que o nosso, na Venezuela! Não foi possível Nicolás Maduro convencer de que ganhara a eleição. Tudo indica que Maduro mandou interromper a contagem quando percebeu que perdia por larga margem, já com a apuração em eloquentes 83,5%. Um episódio inesperado aconteceu na tevê Globovisión, quando o entrevistado, pedindo o número do título de eleitor do apresentador, consultou o celular, confirmou a seção eleitoral e disse que, onde seu entrevistador tinha votado, Maduro teve 94 votos e Edmundo González, 394. Ali, na hora, ao vivo, sem chance de cortar. 

Aqui, temos as urnas dos mistérios digitais. Além disso, não há imparcialidade dos juízes. Dentre outros fatores, foi a falta disso que gerou o 8 de janeiro. Os paulistanos, que foram para uma eleição cuja campanha destoa da importância de São Paulo, têm na bandeira um dístico em latim que diz: Não sou conduzido, mas conduzo. E hoje, o quanto permitimos que nos conduzam? Será por indiferença? Ou por medo de um arbítrio censor que contraria a Constituição? Em 1932, os paulistas deram sangue para exigir que Vargas aceitasse uma Constituição. Ele aceitou, mas depois impôs o Estado Novo, repetindo o que fizera Salazar em Portugal. (Alexandre Garcia)

AGORA temos as redes sociais, que deram mais voz a cada um; mas também a usamos como um desabafo: postamos, nos aliviamos, e vamos em frente. Perigoso manter suspenso o X, porque pode acumular pressões. Há 14 anos, Lula, Dilma, Edison Lobão e a governadora Roseane Sarney estiveram em Bacabeira, Maranhão, anunciando com festa e ufanismo a refinaria Premium, da Petrobras. Tiraram quem estava sobre a área de 200 hectares e criaram a expectativa de 132 mil empregos e muita renda para o município. Não aconteceu nada e continuam pobres. E na última eleição presidencial, Lula recebeu 81% naquela cidade?

Quando a Lava Jato descobriu as propinas de empreiteiras para políticos e seus partidos, proibiram que empresas doassem para partidos. Será que acreditavam que iria valer? Tivemos a noticia que o dono da Cosan, Rubens Ometo, que doou R$ 7,5 milhões na última campanha, principalmente para Lula, agora dobrou a doação, com R$ 15,4 milhões para 160 candidatos e partidos; Ricardo Gontijo, da Construtora Direcional, doou R$ 250 mil para o PSD; Antônio Setin, da incorporadora Setin, deu R$ 1 milhão para o partido de Kassab e Pacheco, assim noticiou o Metrópoles. Isso sem contar o dinheiro de nossos impostos que vai para o Fundão eleitoral...

VOLTANDO às eleições municipais... podemos nutrir esperanças para um 2026 melhor (ou menos pior)? A realidade é sempre a realidade, goste ou não dela. Além do fato constatado por todos, de que essas eleições foi vitoriosa para a direita e o centro, fazendo mais prefeitos, mais vereadores e tendo mais votos, Jair Bolsonaro também saiu vencedor. Mesmo inelegível, ele avançou até mesmo no Nordeste. Em Teresina (PI), por exemplo, um reduto petista, o candidato do PT não ganhou nem com o apoio de Lula e de Wellington Dias, ex-governador e ministro de Lula. Quem venceu foi o candidato apoiado por Ciro Nogueira (PP), ex-ministro de Bolsonaro.

Aliás, o PT não elegeu ninguém em primeiro turno nas capitais. Foi ao segundo turno em quatro das 26 capitais, provavelmente sem chance em nenhuma delas, principalmente em Porto Alegre, onde só houve segundo turno porque o atual prefeito ficou só um pouco abaixo dos 50% dos votos. Era bem o momento de pedir recontagem, se houvesse o comprovante do voto – assim como aconteceu em São Paulo, onde os três primeiros ficaram mais ou menos empatados, indo para o segundo turno Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSol). Mas o fato observado, no geral, foi de que o apoio de Bolsonaro continua fazendo a diferença.

HOJE, os partidos de centro e direita conseguiram três vezes mais prefeituras, mais vereadores e mais votos. O campeão de votos foi o PL; de prefeituras, o PSD, de Gilberto Kassab, que é secretário de Tarcísio de Freitas em São Paulo; e o campeão de vereadores foi o MDB. Esses foram os partidos que mostraram mais força. É claro que temos de fazer uma ressalva: em geral, no Brasil, quem puxa mais o voto para prefeito e vereador é o candidato, é sua força pessoal. A força de Bolsonaro foi tanta que agora todos os filhos estão na política: o jovem Jair Renan foi o vereador mais votado de Balneário Camboriú (SC). Bastou dizer “filho de Bolsonaro”. 

Enquanto isso, uma pessoa que ficou com fama de ter traído Bolsonaro, Joice Hasselmann, foi candidata a vereadora em São Paulo e teve apenas 1.669 votos. Em 2018, como candidata a deputada federal apoiada por Bolsonaro, ela teve mais de 1 milhão de votos. Já a surpresa em Curitiba foi Cristina Graeml. Sem nenhum apoio, sem estrutura, sem nada, assim como Pablo Marçal, terminou praticamente empatada com o primeiro colocado. Vai ser complicado lá, porque Cristina Graeml apoia Bolsonaro, ele gosta dela, mas o adversário dela, Eduardo Pimentel, tem um vice que é doPL. 

TAMBÉM em Goiânia há um certo dilema. De um lado, Ronaldo Caiado; do outro, Bolsonaro. O segundo turno tem um candidato de Bolsonaro, do PL, e o candidato de Caiado, Sandro Mabel, do União Brasil. Não deixa de ser uma divisão, e a esquerda muitas vezes tira partido quando a direita, o centro, os conservadores se dividem. Em Campo Grande, o apoio de Bolsonaro não determinou. Venceu (mais uma vez) o apoio de Tereza Cristina. De toda forma, é a direita vencendo no primeiro turno, que agora deverá se unir em segundo turno, apoiando a atual prefeita. O ministro das Relações Institucionais de Lula, Alexandre Padilha, tentou separar o resultado municipal das eleições nacionais. 

Não tem como separar, dizer que uma coisa não influencia na outra. Os eleitores não são os mesmos nas duas eleições? E nós ficamos sem entender. Se a centro-direita tem tanto voto a mais que a esquerda, se todo mundo sabe que a nação brasileira é conservadora, como foi que Lula ganhou? Cada vez mais estranha toda essa história. Isso vai, sim, influenciar a eleição de 2026, tanto a presidencial, quanto para governadores, deputados e dois terços do Senado. É um resultado eloquente, embora ainda seja necessário sim o voto impresso e contagem pública, para garantir menos intervenção e mais segurança e liberdade de expressão.

CONTUDO, é boa a notícia para quem entende que a "despiora" do Brasil começa pela sua "despetização" (eu não tenho dúvidas disso): Lula/PT não conseguiu eleger a maior parte dos candidatos, o PT perdeu até em Araraquara (SP), o que é bem significativo, porque o prefeito lá é Edinho Silva, ex-ministro de Dilma; diziam até que ele seria o sucessor de Lula no PT, mas não deu certo. Lula foi a 21 lugares fazendo campanha; perdeu em 16, só ganhou em 5. Eduardo Paes? Não: a vitória de Paes é dele, que já tem história no Rio de Janeiro. Era do PFL, depois virou DEM. Hoje ele está no PSD. Lula até apoiou, mas a vitória de Paes não pode ser creditada a Lula.

Já Bolsonaro elegeu mais um filho: Jair Renan foi o vereador mais votado de Balneário Camboriú. Carlos Bolsonaro foi novamente o vereador mais votado do Rio de Janeiro. Bolsonaro teve esse desempenho na maior parte dos lugares. E das 51 prefeituras que terão segundo turno, o PL está em 23 disputas; o PT está em 13; MDB, União Brasil e PSD estão em 10 cada. O avanço da direita nas eleições municipais de 2024 cumpriu com o objetivo estratégico de consolidar as bases para um avanço mais robusto nas eleições de 2026, com foco especial nas disputas majoritárias pelas duas vagas ao Senado em cada uma das 27 unidades da federação.

O FOCO na Câmara Alta é essencial, pois só o perfil majoritariamente conservador dos senadores garantiria o equilíbrio dos poderes da República e efetiva reação contra o ativismo judicial. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, vê a direita fortalecida, sobretudo seu partido, líder em votos, com crescimento de 236,2% em relação aos recebidos em 2020. “Com a força de Bolsonaro, conquistamos apoio popular para eleger prefeitos”. Vereadores da legenda eleitos que foram campeões de votos: Lucas Pavanato, de São Paulo, com 160 mil, seguido de Carlos Bolsonaro, pelo Rio de Janeiro, com 130 mil. “A jornada só começou”, disse.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos apoiadores mais procurados pelos candidatos da direita, vê o Senado como “o foco principal da direita para 2026”, enfatizando a eleição de prefeitos e vereadores como passo para alcançar o objetivo de comandar o Senado na próxima legislatura. Segundo Ferreira, a meta do Senado tornou-se ainda mais urgente devido às dificuldades enfrentadas com o atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “Pacheco segue inerte diante dos desmandos do ministro Alexandre de Moraes (STF)”, afirmou em entrevista à Rádio Itatiaia.

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