Seis horas sendo vigiada por homens de preto armados, que a levaram por corredores subterrâneos até uma sala cercada de vidros à prova de bala, sem direito sequer a um copo de água. Interrogada à exaustão, a brasileira Kimie Kawashima, 40 anos, foi fotografada, tirou impressões digitais e teve de jurar perante a constituição norte-americana que seu depoimento era verdadeiro.A acusação? Passar pelos EUA, rumo ao Japão, sem o visto norte-americano de trânsito. A cena, bem ao gosto de Hollywood, aconteceu de fato perto dali, no aeroporto de Los Angeles, no começo de agosto passado.Com o bilhete aéreo em mãos, por mais que tentasse explicar que seu destino era o aeroporto de Nagoya, onde a mãe e a irmã a esperavam, a brasileira não convenceu e, sob escolta, foi colocada num avião de volta a São Paulo."Fui deportada. Nunca me senti tão humilhada", lembra Kimie, que não se deu por vencida. "Voltei ao Brasil, tirei o maldito visto e fui para o Japão", conta. Na volta, a imigração brecou a brasileira outra vez. "Acho que minhas fotos ficaram registradas no computador deles, mas com o visto me liberaram logo."Desde setembro do ano passado, o Departamento de Segurança Interna dos EUA obriga a apresentação de visto de trânsito para quem precisa fazer escala de vôos internacionais em seus aeroportos. Com as medidas, mesmo quem nem deixa a aeronave precisa do visto, que custa US$ 120. Além de exigirem visto em trânsito, os norte-americanos criaram outros obstáculos para os viajantes. Desde agosto do ano passado, o Departamento de Segurança Interna exige entrevista pessoal para autorizar qualquer pedido. Quem não mora em uma das cidades brasileiras com consulado ou embaixada -São Paulo, Rio, Recife e Brasília- precisa se locomover até elas para ser entrevistado.O Departamento de Estado diz que as medidas foram adotadas em relação à maioria dos países por conta de um suposto plano que se beneficiaria de escalas e conexões aéreas em solo americano para um novo ataque terrorista.Diante de tantas dificuldades, os brasileiros estão desistindo dos EUA. "A maioria dos turistas, inclusive aqueles que optavam pelos EUA como escala para a Ásia, está redirecionando sua viagem para a Europa", diz Gilberto Almeida de Araújo, 36, diretor da agência e operadora Speedytour de São Paulo.