Um dos heróis da permanência do Botafogo na Série A do Campeonato Brasileiro, o atacante Jobson, de 21 anos, foi suspenso por dois anos por uso de cocaína. Flagrado no exame antidoping nos dias 8 de novembro e 6 de dezembro, ele disse nesta terça-feira, durante o julgamento, que na verdade usou crack, um derivado da cocaína. O jogador foi julgado pela Segunda Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com base no código da Agência Mundial de Antidopagem. Com informações do site Justiça Desportiva.
Antes do início da sessão, o auditor-relator Marcelo Tavares colocou em votação se o atleta seria julgado pelas duas infrações ou por apenas uma, já que não havia sido avisado do primeiro doping antes do segundo exame. A Procuradoria, no entanto, decidiu analisar os dois casos separadamente, o que ainda assim deu ao jogador a chance de ser punido por apenas um caso de doping.
Julgado em dois processos, Jobson acabou contando com a condescendência dos auditores, que não viram no atleta um caso perdido, mas sim um jovem de talento que precisa de ajuda. Marcelo Tavares votou na suspensão por dois anos, considerando apenas um caso. Ele foi acompanhado pelo auditor José Peres. Já os auditores Otacílio Gonçalves e Francisco Peçanha optaram pela pena de um ano. Com o empate, o presidente da sessão, Paulo Valed, decidiu suspender o jogador por dois anos, encerrando a possibilidade de o jogador se banido em definitivo do esporte.
Apesar do alívio geral, uma vez que Jobson poderá voltar a jogar futebol, o advogado do jogador, Carlos Portinho, não se mostrou satisfeito com o resultado. Segundo ele, o caso deveria ter sido encarado com mais carinho por se tratar de uma pessoa que precisa de ajuda.
- Não posso me conformar com uma pena de dois anos. Tratamos de um doping social, que gera um sério problema de saúde. O futebol tem de se preocupar com isso e com a recuperação do jogador. É preciso refletir muito sobre o assunto, pois esse tipo de situação não melhora o desempenho de ninguém.
Em depoimento oficial, jogador troca a cocaína pelo crack
Convocado a depor, Jobson, cujos direitos econômicos pertencem ao Brasiliense, alegou ter se enganado ao reconhecer que usou cocaína. Segundo ele, a droga usada foi crack (droga feita a partir da mistura de cocaína com bicarbonato de sódio), sendo que não lembra da última vez. Ainda assim, assumiu que fumou várias vezes desde 2008, quando atuava pelo Brasiliense, e que não sabia que no crack há uma mesma substância encontrada na cocaína.
- Eu fumei crack, e não foi a primeira vez. Eu uso desde aquela época, mas nunca nunca caí no doping - disse o jogador, garantindo ainda não poder afirmar se é viciado, pois usou a droga eventualmente. - Utilizei mais de uma vez, por isso não posso dizer se sou ou não.
O testemunho acabou tendo o efeito contrário do que a defesa esperava: desqualificar o uso da droga para benefício esportivo. Carlos Portinho ressaltou que a cocaína não ajuda o jogador em campo, assim como lembrou que o jogador de vôlei Giba, flagrado por uso de maconha, fez tratamento e se recuperou. Portinho terminou a defesa dizendo que o jogador precisa de ajuda, não de punição, no que foi acompanhado pelo presidente do Brasiliense, Luiz Estevão. Segundo o dirigente, o lugar onde o Jobson morava - Conceição do Araguaia, no Pará - e as más companhias o influenciaram a usar a droga.
Mas para o procurador Caio Medauar, um exemplo para jovens jogadores não poderia alegar tanta ingenuidade, e a confissão do uso da droga já seria o bastante para a sua condenação.