Dia desses fui inquirido sobre o que eu achava sobre a maneira das pessoas se cumprimentarem, mais precisamente, o que eu achava sobre o aperto de mãos. Dei minha opinião rapidamente, dizendo que um aperto de mãos podia até mesmo refletir a personalidade das pessoas. Minha interlocutora, talvez por não ter ficado satisfeita com a resposta, ou quem sabe por ter concordado com ela, mas querendo aprofundar-se no assunto fez-me o desafio para que eu escrevesse uma crônica sobre o tema.
Aceitei o desafio, mas dei-me conta de que sou leigo nesse assunto, então me pus a pensar o que teria eu visto ao longo de minha vida que dissesse respeito às mãos e motivado a resposta que dei naquele momento. A primeira coisa que me veio à mente foi uma peça teatral: “As mãos de Eurídice”, escrita por Pedro Bloch e representada mais de 60 mil vezes.
Mas as mãos de Eurídice, hábeis nas mesas de jogos, não foram capazes de libertarem-se das jóias que o amante Gumercindo lhe ofertara outrora e por isso ele a assassina. Arrancando as jóias das mãos da amante, Gumercindo volta a casa, mas já não encontra a família. Mesmo só, monologa com a esposa ausente: "Eu quero cobrir as suas mãos de jóias. Eu quero as suas mãos, Dulce. Dulce! Eu voltei, Dulce! Eu voltei!"
Não são as mãos para serem cobertas de jóias que me interessam. Busco então no fundo da memória lembranças de uma obra de Friedrich ENGELS, sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem, na qual ele realça a importância das mãos na evolução da espécie humana, atribuindo especial importância ao desenvolvimento do polegar opositor em relação aos outros dedos. Sem o polegar opositor o homem não teria atingido tão elevado nível de evolução. Não conseguiria segurar os materiais, fazer as ferramentas e as armas com as quais se tornaria mais forte que os demais animais.
Essas mãos que trabalham que constroem, essas me empolgam, me fazem crer na sua importância fundamental não só nas edificações materiais da humanidade, mas especialmente no relacionamento humano. Por coincidir com esse meu sentimento partilho com o leitor (especialmente com quem me instigou a redigir essa crônica) alguns trechos do Monólogo das Mãos, de Chiaroni.
“Foi com as mãos que Jesus amparou Madalena (...) que Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência (...) com as mãos o agricultor semeia (...) o operário constrói. Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba! (...) As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; os remédios e os venenos; os bálsamos e os instrumentos de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva. (...) Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino.
E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera que continuam na morte as funções da vida. E as mãos dos amigos nos conduzem…E as mãos dos coveiros nos enterram!
Convido o leitor a ver esse monologo completo no sítio indicado logo abaixo: http://netseo.perus.com/monologo-das-maos/ . Vale a pena, entre outras coisas, descobrir ainda que “O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto de amizade ou um juramento de felicidade”.
Suas críticas são bem vindas: biasotto@biasotto.com.br
Wilson Valentim Biasotto *
*Da Academia Douradense de Letras. Professor aposentado CEUD/UFMS