Por mais de 40 dias, a cerâmica terena sul-mato-grossense vai ocupar a ampla Sala do Artista Popular, no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Rio de Janeiro. A exposição é mais um passo no processo de afirmação cultural e auto-sustentação das aldeias indígenas, iniciado este ano pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, explica o arquiteto Mário Sérgio Cabral, gerente de Patrimônio Histórico do Estado. Cerca de 500 peças selecionadas serão levadas ao Rio especialmente para a exposição. Parte do acervo estará à venda. São pratos, vasos, moringas, panelas, uma variedade de utensílios domésticos em tamanhos e formatos diversos, mas com uma marca única e inconfundível: a delicada pintura terena. Mário Sérgio Cabral revela uma curiosidade que ajuda a entender a peculiaridade dessas cerâmicas.“Os terena não tinham o hábito de pintar sua cerâmica. Mas como sempre foram mercantilistas, ao travar contato com os portugueses, já no início do século XVIII, introduziram mudanças nas peças a fim de conquistar os novos compradores. Percebe-se, assim, que os desenhos são inspirados das rendas portuguesas.”Expor esses produtos no mais famoso centro cultural do País coroa trabalho de meses, que teve a orientação de dois antropólogos, técnicos da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e, principalmente, apoio dos ceramistas terena. Por sua relevância econômico-social, o projeto faz parte do programa Fome Zero Indígena, pois além de resgatar a cultura representa uma importante fonte de renda para a aldeia.A idéia era fomentar a cerâmica terena, bastante reduzida e desvirtuada, pois as peças já não tinham a resistência de antigamente e prestavam-se basicamente como suvenir. Isso feito, a próxima etapa é divulgar e abrir mercado para o produto, tanto estadual como nacional. Ao retornar do Rio de Janeiro, a exposição será mostrada para os sul-mato-grossenses.Para melhorar a qualidade da cerâmica, o primeiro passo foi localizar entre os terena de 17 aldeias de Aquidauana, Miranda e Nioaque, aqueles que preservavam a técnica de fabricação dos ancestrais. Foram selecionadas 18 ceramistas, que monitoraram o trabalho dos demais indígenas. Três destas monitoras estarão no Rio de Janeiro durante a exposição, mostrando como transformam argila em arte.“Depois que os indígenas reaprenderam a fazer a cerâmica através das técnicas originais, pedimos que fabricassem 500 peças para montar a exposição. Quando retornamos às aldeias nos surpreendemos com a quantidade do estoque. Em poucos dias, fizeram mais de 1,7 mil peças”, conta Mário Sérgio Cabral. O excedente será todo comercializado. A Fundação já está negociando com supermercados um espaço para o produto.Os terena estão otimistas e eufóricos com a perspectiva de emplacar sua cerâmica. “Hoje eles se sustentam plantando mandioca, milho, feijão. As índias percorrem longas distâncias com cestas sobre a cabeça para vender esses produtos de casa em casa na cidade. A fabricação de cerâmica vai mantê-los na própria aldeia, e, quando o mercado estiver consolidado, vão ganhar muito mais”, explica Mário Sérgio.