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Alianças do PT e PSDB estão em xeque por causa das eleições

25 janeiro 2010 - 16h50

Com o PT e o PSDB engajados em intensa troca de insultos na polarização da disputa nacional , petistas e tucanos, que em 2008 formalizaram composições para disputar 1.058 prefeituras municipais em todo o país, têm pela frente um ano que exigirá habilidade de equilibrista pelo menos nas 245 cidades que governam juntos. Há municípios em que os antigos “aliados” já estão às turras. É o caso de Sete Lagoas, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde o prefeito Mário Márcio Campolina Paiva (PSDB), o Maroca, mostrou o cartão vermelho para a secretária de Ação Social, Léa Braga (PT), ligada a Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Confronto em campo aberto à parte, há muito mais casos de casamentos de conveniência entre as duas siglas que, por enquanto, se mantêm estáveis e sem sobressaltos. Belo Horizonte, Congonhas, na região central de Minas, Açucena e Belo Oriente, no Vale do Rio Doce, são alguns dos muitos exemplos encontrados entre as 123 cidades mineiras em que PT e PSDB governam. A política da boa vizinhança, contudo, será testada ao limite, num ano em que o poder central será disputado nas bases com unhas e dentes, voto a voto.

A Executiva Nacional do PSDB avisa: coligações de 2008 à parte, a conjuntura agora exige o engajamento dos líderes partidários locais nas campanhas majoritárias. “O PSDB vai estar coeso em torno de nossa candidatura à Presidência da República e há consenso de que será necessária mobilização muito maior do que ocorreu nas eleições passadas. Quem não estiver nesse espírito será cobrado”, afirma Rodrigo de Castro, secretário nacional do partido.

O presidente estadual do PT, Reginaldo Lopes, também é enfático: “A questão administrativa é uma. A eleitoral é outra. Vamos respeitar o posicionamento daqueles que estão no governo. Mas nossos filiados vão disputar cada voto”. O ex-prefeito Fernando Pimentel (PT), membro da equipe de coordenação da campanha de Dilma Rousseff, vai na mesma direção: “Cada um faz campanha para o seu candidato. Os nossos vão pedir votos para o PT. Disso não tenho dúvida”.

Sinuca política
Das 1.058 cidades em que PT e PSDB se uniram para concorrer às eleições municipais, os petistas encabeçaram a coligação em 55 e os tucanos em 46. Em 688 municípios, os dois partidos compuseram a mesma coligação sem apresentar candidato na chapa majoritária. Em 161, o PT respaldou chapas do PSDB informalmente. A recíproca foi verdadeira em 108 cidades, como em Belo Horizonte, onde tucanos sustentaram a chapa de Márcio Lacerda (PSB) e de Roberto Carvalho (PT) sem coligação formal. Os dados são da Executiva Nacional do PT.

Eleito, Lacerda agora enfrenta uma sinuca política. No plano estadual, vê dois dos eixos de sua candidatura se enfrentarem ao Palácio da Liberdade, sem qualquer possibilidade de composição. O PSDB de Aécio Neves apresentará o vice-governador Antônio Anastacia para encabeçar a chapa majoritária do partido, o que motiva particularmente a equipe instalada na BHTrans, Sudecap, na Saúde e nas regionais Barreiro e Pampulha. O PT poderá lançar o ex-prefeito Fernando Pimentel, mobilizando secretários que ocupam entre 60% e 70% dos postos-chaves na administração, como a Fazenda, o Planejamento, a Ação Social, a secretaria de Obras e a Educação. O PT também poderá indicar a candidatura de Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Em que pese para Lacerda, se Patrus for o candidato, a tendência será de apoio a Anastasia. No plano nacional, o fato de o candidato do PSDB não ser Aécio Neves constitui um facilitador político para o prefeito. “A minha tendência é de apoio a Dilma Rousseff”, avalia Márcio Lacerda. Há uma ressalva: se o PSB lançar a candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE).

Se, por enquanto, a tensão eleitoral, que borbulha dentro dos partidos, ainda não foi incorporada às hostes da administração de Belo Horizonte, caso a proximidade do pleito acabe com a “harmonia”, Lacerda, um gestor com perfil mais técnico do que político, assinala: “Qualquer um poderá pedir licença para apoiar a candidatura de seu partido”.

Boa vizinhança
Assim como em Belo Horizonte, PT e PSDB dividem a administração municipal em 123 municípios de Minas Gerais , 39 dos quais encabeçados pelo PSDB e 22 pelo PT, segundo informações obtidas junto ao banco de dados de registro das candidaturas do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais.

"Moda" mineira
Nas eleições passadas, em decorrência da aliança costurada pelo governador Aécio Neves (PSDB) e pelo então prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), a “moda” tucano-petista pegou no estado. Ao todo, as duas legendas se juntaram formalmente em 205 cidades mineiras, tendo perdido em 82 delas. No Brasil, o sucesso eleitoral desse arranjo político teve menor incidência. Segundo levantamento da Executiva Nacional do PSDB, há apenas 245 cidades no país onde o poder local é partilhado entre as legendas.

Na região central de Minas, Congonhas, a dobradinha foi reeleita e está escolada em se equilibrar durante eleições gerais. “Em 2006 cada um fez campanha para os seus candidatos. O meu vice trabalhou muito para o Aécio. Por aqui o PSDB não se esforçou menos na campanha do Geraldo Alckmin. No PT investimos no nome do Nilmário Miranda e no de Lula”, explica Anderson Cabido, que é um dos coordenadores regionais da campanha de Dilma Rousseff em Minas.

Belo Oriente é outra governada pelo PT com um vice do PSDB. “Tentamos essa composição pela primeira vez em 2004 e perdemos. Nas eleições de 2008 insistimos e fomos vitoriosos”, avalia José Hermógenes, secretário municipal de governo e tesoureiro do PSDB. “Os dois partidos se dão muito bem e temos muitas obras do governo do estado e mais ainda do governo federal”, sustenta Hermógenes.

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