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ALEX SANDRO PEREIRA DE MORAIS

“As pessoas só se conscientizam quando há dor”, diz presidente do Centro de Apoio ao deficiente

18 junho 2015 - 06h37

A entrevista desta semana do Dourados News é com Alex Sandro Pereira de Morais,44, presidente do Centro de Apoio a Pessoas com Deficiência e vice presidente do Conselho Municipal do Direito da Pessoa com Deficiência. Alex faz parte da equipe do centro há sete anos e conheceu o trabalho por meio da equipe de basquete Dourados Sobre Rodas.

Ele trabalhou no Centro de Convivência Dorcelina Folador por alguns anos e decidiu se dedicar inteiramente à causa onde é presidente há dois anos.

O local realiza um trabalho social para as pessoas portadoras de deficiência física com a doação de materiais como cadeira de rodas que são feitos com materiais arrecadados pelo próprio centro. Em 2014 foram realizadas 396 atendimentos com doações.

Alex ressalta que a busca é apoiar em especial as pessoas que por algum fator acabaram por ficar deficiente, o que é uma situação inicial bem difícil para esta e para seus familiares.

O presidente destaca que as condições enfrentadas pelos deficientes no quesito mobilidade na cidade são muitas. Entre estas a falta de rampas de acesso e também as que estão irregulares e acabam em bueiros. Outro ponto criticado é a falta de padronização do piso tátil.

Já em relação ao transporte coletivo, Alex cita que a situação tem sido insustentável. Há falta de ônibus com elevadores como pede a lei faz com que os deficientes tenham que esperar horas segundo ele, até conseguirem “pegar” um que seja ideal.

Com esses fatores, Alex cita ainda que é preciso lidar com a falta de consciência da população que não respeita as vagas de estacionamento para pessoas com necessidades especiais.

Para ele, as pessoas com deficiência tem conseguido obter seus direitos cada vez mais na medida em que se unem nas causas e buscam informações, porém, muito ainda preciso ser feito.

Confira a entrevista na íntegra:



Dourados News- Qual é o trabalho do Centro de Apoio?

Alex Sandro Pereira de Morais- Trabalhamos em cima de auxílio para as pessoas deficientes e com deficiência na busca de seus direitos, para conseguir medicamentos e encaminhamentos para cadeira de rodas ou outros materiais, para área esportiva. Hoje o centro de apoio tem a equipe de basquete Dourados Sobre Rodas, a equipe de tênis para cadeirantes, tem natação, várias modalidades e tudo gratuito. Temos também judô para os filhos dos deficientes. Estamos com turmas bem grandes nessas modalidades e cada dia elas crescem mais. Realizamos esse serviço social na associação por conta da demanda pois, o serviço social quando você solicita ao governo, o órgão demora de um a dois anos para entregar. Então a pessoa que hoje em dia precisa de cadeira de roda, muleta, andador, precisa de imediato, não pode esperar. Vai ficar um ano deitado na cama sem a cadeira? Então a associação entrou em parceria com a comunidade para realizar esse tipo de atendimento a quem precisa. A gente pega as cadeiras usadas reforma e reaproveita e doamos. Ano passado fizemos 396 doações de cadeiras de roda para comunidade de Dourados a custo zero. Isso não é luxo, é necessidade imediata. As doações que fizemos aconteceram devido auxílio da comunidade, empresários e com a ajuda de Deus. As famílias que recebem as cadeiras assinam um termo de responsabilidade pelo material e quando não precisar mais do mesmo, se comprometem a devolvê-lo para o centro, para que seja possível ajudar mais gente. Hoje atendemos muitos casos. Um que tem acontecido bastante é o AVC (Acidente Vascular Cerebral) que tem deixado as pessoas com essa necessidade, os acidentes em geral também. Nós buscamos atender o que precisa de adequação na casa, enfim todo esse serviço. A gente entende que não é só a vida de quem fica com a deficiência que muda, mas, muda a vida da família também. Nós nos empenhamos nesse projeto, pois, sabemos o quanto é difícil quando a pessoa adquire uma deficiência, já que quando ela nasce com a mesma ela aceita mais, porém, quando adquire é muito mais complicado. No meu caso aconteceu assim, fui apartar uma briga de amigos e tomei um tiro nas costas, eu não tinha nada a ver. Tinha 21 anos, recém-casado, mulher grávida de sete meses, foi muito difícil para mim e por isso busco apoiar essas pessoas atualmente.

D.N- Esse número de doações foi o suficiente ou acredita que ainda ficaram pessoas para atender?

A.S.P.M- Com certeza o número é bem maior, só que os que chegaram conseguimos atender. A demanda é bem maior, depois que fizeram divulgações do nosso serviço social a procura tem crescido. Mês passado aqui pela associação, por exemplo, nós tivemos 58 atendimentos domiciliares com entrega de material entre esses cadeiras de rodas, cadeiras de banho, andador, muletas, guinchos, entre outros.

D.N- Quais as maiores dificuldades das pessoas portadoras de necessidades especiais em Dourados?

A.S.P.M- São muitas. No dia a dia enfrentamos batalhas. Quando acordamos cedo já sabemos das lutas. Questão dos estacionamentos com as vagas dos deficientes físicos, acessibilidade em várias lojas, bancos... Eu tenho conta no Banco do Brasil e tenho dificuldade grande na hora de entrar. Nunca está disponível a chave da porta lateral para nós, demora, muitas vezes as pessoas passam, ficam olhando você ali 10, 15 minutos esperando para entrar e quando você entra é a mesma dificuldade para sair. As rampas tem algumas em bueiros, acham que para o cadeirante passar com cadeira de roda é igual a bicicleta, que atropela tudo, não é assim. A cadeira de rodas se bater em um buraco trava e te derruba no chão. Os pisos táteis por exemplo, acredito que tem que ser só daqueles que são largos. Agora, não sei de onde que é a lei correta já que alguns tem um tamanho e outros são bem diferentes, isso é complicado.

D.N- E quanto ao transporte coletivo? Como é a acessibilidade?

A.S.P.M- As reclamações são inúmeras. Elevadores não funcionam. O deficiente hoje pega uma circular por exemplo, no Canaã I para chegar até aqui na sede da associação para participar das atividades, sai de casa 09h para conseguir chegar aqui as 14h, isso é um descaso! Isso acontece porque falta ônibus com as devidas adequações daí tem que esperar muito. Até questionei o representante da Medianeira [empresa responsável pelo transporte público coletivo em Dourados] já que faço parte do Conselho Municipal de Transporte Coletivo, como foi possível conseguir a concessão da empresa novamente com os poucos ônibus que eles têm adaptado? Hoje são 19 ônibus adaptados em Dourados e a promessa é que agora com dez dias se coloque mais vinte ônibus adaptados porquê conseguiu concessão, mas, se a lei de 29 de dezembro que afirma que a frota tinha que ser 100% adaptada o porquê a prefeitura renovou? Essa é outra questão que vamos debater.

Para Alex, o poder público estadual e municipal deveria dar mais atenção as necessidades dos portadores de deficiência (Foto: Rodrigo Bossolani)

D.N- Como você classifica a acessibilidade no município?

A.S.P.M- Está melhorando e isso é devido a cada vez mais os deficientes estarem descobrindo e cobrando seus direitos. Hoje se você for na maioria dos órgãos públicos não há acessibilidade, são locais que deveriam ser referência e não são. Se você for em uma central do cidadão por exemplo, você não tem acesso a um banheiro. Vai na Secretaria de Educação e não tem acesso a sala de informática. A maioria dos órgão hoje não possuem acessibilidade, inclusive no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) que trabalha com o auxílio doença, invalidez, deficiência e lá não tem rampa de acesso, não tem vaga para deficiente. Não dá para entender, sobre isso já reclamamos mas, não foi feita mudança nenhuma.

D.N- Quantas pessoas possuem necessidades especiais na cidade?

A.S.P.M- É difícil saber esse número ao certo. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) são 12 mil cadeirantes. Aí tem os deficientes visuais, auditivos, os amputados, os intelectuais, entre outros. Penso que tenha uma faixa de 25 a 30 mil pessoas com algum tipo de deficiência.

D.N- Em relação a mobilidade urbana, onde estão os maiores problemas em Dourados?

A.S.P.M- Acessibilidade e transporte coletivo são duas coisas que o deficiente enfrenta muitos problemas. Com nosso trabalho conseguimos tirar de casa um rapaz de 16 anos que está em cadeira de rodas e não sabia o que era rua. Hoje ele está participando com nós, voltou a estudar, voltou a fazer atividades esportivas e é um dos voluntários aqui da associação, ficava dentro de casa, pois, não tinha como sair.

D.N- Nas escolas, como têm sido?

A.S.P.M- Melhorou bastante. Colocaram mais rampas, mais profissionais para atender o deficiente e as mães tem cobrado os direitos dos filhos deficientes e isso tem ajudado.

D.N- A quantidade de rampas de acesso é suficiente?

A.S.P.M- É uma grande dificuldade. Muitos lugares não tem a vaga, não tem a rampa e quando tem não é adequada segundo as normas, ou ela é muito inclinada ou ela é perto de um bueiro, então é bem difícil. Se você não tiver um auxílio você cai. Se na área central já é assim, nos bairros praticamente nem existem, é a coisa mais rara do mundo, a não ser em um órgão público como posto de saúde ou algo assim. Inclusive nos postos de saúde é bem difícil, alguns não tem uma cadeira de rodas para colocar o deficiente para dentro, um absurdo. Nós estamos preparando uma cadeira para deixar no Detran (Departamento de Trânsito) e outra para o posto de saúde do Guaicurus, são situações que nos deixam revoltados. Vemos isso e vemos que na Secretaria de Saúde tem um material que está jogado no tempo que não estão usando e enviamos ofício solicitando para trabalhar com os mesmos aqui e não recebemos nem resposta.

D.N- Que materiais seriam esses?

A.S.P.M- Macas, cama hospitalar, cadeiras de roda, andadores, tudo jogado no tempo. A solicitação fizemos há uns dois meses e nada de respostas. Isso tudo seria muito útil para trabalharmos e prestar o serviço que teria que ser feito pelo setor da saúde e não está sendo feito. O que acontece é que hoje se a pessoa precisar de cadeira de rodas, muleta ou andador se for pelo órgão público, ela fica um ano ou dois anos sem o material. E a pessoa que precisa desses itens pode esperar esse tempo todo?

D.N – Em relação ao piso tátil, a falta de padronização causa que tipo de problemas?

A.S.P.M- Deveria ser padrão e são todos diferentes. Teria que ter uma fiscalização e ações corretas para isso. O deficiente visual é o que mais sofre com isso e traz muitas dificuldades para ele. Os pisos que são colocados colados costumam se soltar com facilidade e prejudica até para nós também, pois atrapalham.

D.N- Existe algum projeto específico feito pelo Centro para que se melhore a questão de acessibilidade em prédios públicos e privados?

A.S.P.M- Nós fizemos uma fiscalização pelo conselho e foi passado ao Ministério Público e foi constatado que há muitas irregularidades e agora estamos aguardando respostas.

Na oficina do centro de apoio cadeiras de rodas são fabricadas e reformadas para ajudar quem precisa (Foto: Rodrigo Bossolani)

D.N– No ano passado vocês fizeram uma campanha estacionando cadeiras de rodas nas vagas destinadas aos veículos, essa falta de respeito das pessoas ainda continua?

A.S.P.M- Não sei mais nem como falar dessa questão. Na realidade a sociedade não se conscientizou ainda do que uma vaga especial representa para o deficiente físico. Se as pessoas se conscientizassem nunca colocariam o carro na vaga que não é para eles e sim para os deficientes físicos. Fazendo isso, toma-se o acesso do deficiente a calçada, muitas vezes com isso o deficiente tem que andar pelo meio da rua já que o carro está na rampa. Na realidade a conscientização vem sabe quando? Quando as pessoas enxergam dentro da família ou entre amigos alguém que tenha ficado com essa necessidade e aí ele percebe o grau de dificuldade quando há a dor. Infelizmente é assim, aí começam a respeitar. Não vou dizer que não tem melhorado, tem, porém, é preciso muito mais.

D.N – Existem outras ações como aquela prevista?

A.S.P.M- Com certeza. Eu creio que agora até o final do ano nós vamos fazer dois manifestos daqueles e vai ser muito vergonhoso para quem estiver na vaga sem precisar porque a pessoa vai “ganhar” cadeira de rodas, vai ganhar “homenagem” com fogos de artifícios e não vai ser legal para a mesma não. Infelizmente é assim, o brasileiro só se sensibiliza com algo quando passa vergonha ou quando mexe no bolso, por isso realizaremos o manifesto.

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