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A vingança do português

22 fevereiro 2010 - 08h51

Por ser usuário de óculos ou pela pressa em exterminá-lo com as minhas próprias mãos, não consegui distinguir se o danado do bichinho que pousara no móvel bem à minha frente era listrado ou não, mas parecendo ser um pouco maior que um pernilongo deduzi que fosse o consagrado vilão do momento: o aedes aegypt . Minhas repetidas palmadas foram em vão e não sei dizer se ele me transmitiu a dengue e não permitiu a desforra ou se em protesto às minhas palmadas é que me transmitiu a dengue. Mutatis mutandis, pela segunda vez sofri as consequências funestas dessa moléstia cujos sintomas nem vou explicar ao leitor porque não há em nossa cidade e estado quem ainda os desconheça.
Com certeza essa segunda infestação sofrida foi de um tipo mais ameno, pois nem sequer visitei o médico e muito menos notifiquei a ocorrência, mesmo porque estou informado de que as notificações estão sendo negligenciadas diante de tantos casos, o que significa dizer que a epidemia é muito mais abrangente do que os dados oficiais divulgados.
Negligência nas notificações, maior ainda a negligência no combate à praga. Embora todos sejamos responsáveis, no entanto, cabe ao poder público tomar as iniciativas e assumir o comando, não somente no combate à dengue, mas também nos mais diversos setores que dizem respeito ao bem estar da população. Inclusive, pode parecer brincadeira, mas tampando os buracos da cidade, pelo menos aqueles menores e não tão antigos, aqueles onde ainda não existem peixes que devorem as larvas do aedys aegypt.
Brincadeira! Mas, brincadeira por brincadeira melhor é a do português que quando chegou ao Brasil relatou a um compadre que nas terras de pindorama havia um bichinho pequenino, com asinhas, com os quais ninguém podia.
O compadre recebeu a notícia como um desafio, embarcou para o Brasil e em aqui chegando mal cumprimentou o parente quis saber do tal bichinho. Apresentado a uma cachopa de marimbondos o português recém-chegado desferiu-lhe tamanho tapa que as abelhas alvoroçadas atacaram-no em massa.
E o pobre português, correndo, pulando, debatendo-se e ao mesmo tempo desejando espancar as abelhas gritava: ora raios, venham de uma em uma, não todas de uma vez.
Sem graça? Tenha calma, o leitor, ainda vem pior, mas não atropelemos a crônica. A verdade é que o mosquito da dengue, ao contrário das abelhas atacam individualmente e, se nem assim, podemos com ele, vamos chamar o português.
Não, não o que brigou com as abelhas. Chamemos agora o que venceu o pernilongo, é certo que com grande sacrifício, confessado ao porteiro do hotel quando pela manhã desceu o português de seu quarto com a cara de sono.
Ora, pois, foi dizendo o português, como haveria de dormir direito se até o meio da noite um pernilongo ficou a zumbir em meu ouvido? Quem dorme? Só ao meio da noite consegui apanhá-lo.
Rapidamente o porteiro aproveitou a pausa, para perguntar numa lógica ululante, se após ter apanhado o pernilongo o português havia dormido.
- Aí é que não. Quando apanhei o pernilongo segurei-o pelas asinhas e passei o resto da noite a zumbir-lhe aos ouvidos para ele saber o quanto é bom.
Desculpem-me pelas brincadeiras sem graça, além de politicamente incorretas, mas que tal darmos um pouco mais de nossa contribuição fazendo um grande mutirão e ficarmos zumbindo nos ouvidos dos aedes aegypt para ver se os exterminamos.
Difícil é pegá-los.
Seus comentários são bem vindos: biasotto@biasotto.com.br



Wilson Valentim Biasotto *
* Membro da Academia Douradense de Letras. Prof. Aposentado CEUD/UFMS

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