Sexta-feira, 26 de fevereiro, Altair de Oliveira esteve em Dourados para lançar o seu mais novo livro de poesias, “O Lento Alento”. A Academia Douradense de Letras abriu as suas portas para receber o renomado poeta sul-mato-grossense e os seus convidados. Houve abertura oficial do lançamento da obra por Brigido Ibanhes, varal de poesias, recitações por vários poetas presentes e do próprio autor da obra; teve também uma graciosa performance de uma bailarina campo-grandense e, por fim, autógrafos. Uns poucos autógrafos. Ainda é mais fácil vender bolão da mega-sena do que livros de poesia. E por que?
Talvez porque pensemos que todos somos poetas, ou como poderia dizer? Que de poeta, médico e louco todos temos um pouco? Então sendo todos nós poetas por que prestigiar o lançamento de um livro de poesias? Quando menino vi passar pelo meu bairro um sorveteiro que fazia rimas: “sorvetinho, sorvetão, tem de nata e de limão; traz a bacia dona Maria”. O carrinho a cada esquina ficava rodeado de gente e logo se esvaziou. Ah! e no dia em que o humorista Carquejo, da Rádio Difusora de Itápolis, lá pelos meados dos anos 50, fez um concurso para promover as cuecas Arletes? Minha mãe mandou um versinho: “O carquejo é humorista/ e também é locutor/ Como uma cueca Arletes/Ele parece um doutor. Bingo! Foi o verso mais bonito e meu pai foi lá buscar meia dúzia de cuecas que lhe fizeram bom proveito.
Bem sei que minha mãe não se considerava poeta. Talvez nem o sorveteiro. Não basta fazer uns versos de pés quadrados para ser poeta. Se toca Maroca. Fazer verso (ou samba) também não é contar piada, pois quem faz verso assim não é de nada. Não é Vinicius de Moraes?
No fundo, no fundo, penso que a maioria de nós não sabe exatamente o que é poesia. Não, não. Não é isso que quero dizer. Talvez não tenhamos tempo para a poesia. Sim, é isso. Assim é melhor. Temos que correr, “Oh Puxa! Oh Puxa! Devo estar muito atrasado”, como o coelho no país de Alice. Temos que correr não para a festa da Rainha, mas para concorrer, competir, ganhar, vencer.
Poesia? Poesia não compra sapato, não é Emanuel Marinho? Mas como viver sem poesia? Ora, sem poesia ou algo que o valha talvez nos satisfaçamos pegando-nos a tapa e faca, nos matando na saída do estádio, ascendendo a pedra de crack, andando pelas calçadas girando bolsa, fazendo o trottoir, como diriam os franceses.
Poesia? Uso da linguagem humana com fins estéticos, a busca do belo; o refinamento da linguagem na busca do sublime. Poesia? Ora, dirão alguns, isso é dom, nasce com a pessoa. Sim, é dom, não nego, mas para fazer poesia é preciso algo além do dom, é necessária a solidão, a solidão triste e sofrida, o afastamento do mundo, a reflexão profunda para se chegar a um verso.
A gota de orvalho na folha, a lágrima no rosto, a dor no peito, a revolta da alma, todos nos vemos ou sentimos, mas somente o poeta é capaz de sublimá-las. Isso não se faz do dia para a noite. É preciso o aprimoramento que vem com a Educação. Não que todos devamos ser poetas, mas para que possamos apreciar tantas coisas belas que nem sempre estão ao nosso alcance. Ao lado da poesia, a música, a dança, o teatro, a literatura, os esportes (e quantos esportes sequer conhecemos) são elixir perfeito para a felicidade.
E por falar em esporte e arte, por tratar de poesia, como foi bela a Olimpíada de Inverno de Vancouver que ora se encerra. Quem viu fruiu, assim como quem foi ao lançamento do livro de Altair de Oliveira. Bem, a poesia sempre será riqueza de poucos, mas tem o Big Brother. Amém.
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Wilson Valentim Biasotto *
*Membro da Academia Douradense de Letras, professor aposentado CEUD/UFMS