Tive meu primeiro contato com pessoa vítima de dengue, há cerca de vinte e cinco anos, na cidade de Bataguassu, na divisa com o estado de São Paulo. Na época trabalhava de repórter/jornalista na TV Morena e fui escalado pelo departamento de jornalismo da emissora para fazer uma reportagem sobre a doença que havia chegado por aqui e acometia o povo daquele município.
Chegando na cidade procurei a fonte informante e, em seguida, fomos visitar alguns postos de saúde e também um hospital. Por várias horas conversamos com pacientes e autoridades públicas ligadas à saúde pública. O desespero era grande, ainda não tínhamos conhecimento e nem prática para lidar com a enfermidade. Entre as várias entrevistas que nossa equipe gravou a que mais impressionou, pela clareza e simplicidade, foi de um senhor que já estava com alta médica e repousava em casa. Ele descreveu o sofrimento de vários dias ocasionado pela, febre alta, dores pelo corpo todo, falta de apetite e o pouco que comia em seguida vomitava. Brincando ainda disse que havia pagado todos os pecados, tamanho foi o sofrimento.
Bem, depois a dengue se espalhou por outras localidades do estado e agora basta chegar o verão para virar epidemia pelos centros urbanos afora, inclusive em Dourados – a capital do agronegócio e cidade universitária. Tive a infelicidade de contrair a maldita dengue em 2006, passei quatro dias internado no hospital da CASSEMS (antigo Mater Day). No hospital lembrei do senhor de Bataguassu, pois os sintomas que ele descreveu foram os mesmos que sofri no quarto do hospital. E olha que o tratamento avançou bastante, nossos profissionais estudaram, aprenderam e ensinaram a prevenir contra essa moléstia.
Aprenderam e ensinaram! Por que então a doença continua fazendo vítimas entre nós e cada vez com mais intensidade? Dia desses passei pelo hospital da CASSEMS e lá encontrei um dos mais renomados médicos de Dourados, durante nossa conversa ele falou que o hospital estava lotado de pacientes com dengue, o que não constitui novidade para nós douradenses, afinal a doença maldita transformou se numa epidemia na administração Ari Artuzi/Carlinhos Cantor. Mas o sábio médico disse que quando cursou a faculdade de Medicina, isso há alguns anos, as informações sobre a dengue não passava de uma página de livro, isso porque a doença nem existia no Brasil, e que hoje há tratados, compêndios, artigos científicos e livros que tratam da enfermidade. Ou seja, os conhecimentos avançaram e muito nesses vinte e cinco anos de convivência e sofrimento com a doença.
Se temos o tal do “Know how”, onde então está o problema? Boa pergunta essa. A resposta está na ponta da língua de milhões de brasileiros que convivem com essa doença de país pobre e povo relaxado. Vamos esclarecer melhor, a culpa é das autoridades que brincam de fazer saúde pública e de um povo que insiste em não reconhecer que a doença não será erradicada enquanto ele não criar vergonha na cara e tratar de se educar na limpeza que começa nas casas e se estendem pelas ruas, praças, prédios e demais logradouros públicos.
A dengue é a doença do ‘relaxismo’ do povo e da incompetência dos governantes. Enquanto nós continuarmos elegendo incompetentes, relapsos, ladrões, tiranos e vagabundos que estão mais preocupados em se locupletarem do bem público, a dengue continuará entre nós. Enquanto a população ficar de braços cruzados esperando o poder público vir até suas casas e ruas catar lixo, virar garrafas, colher copinhos e outros utensílios que acumulam água, a dengue continuará soberana entre nós, provocando dores, desconforto, despesas e até fazendo vítimas fatais.
Está na hora do povo abrir os olhos e a mente para essa tragédia que é a dengue. A grande luta começa na limpeza dos quintais de nossas casas, estende se pelas ruas, praças e outros logradouros públicos e conclui-se nas eleições de pessoas honestas, conhecedoras dos problemas sociais e comprometidas com a saúde pública de boa qualidade. Vamos dar um basta nas políticas públicas de “meia tigela” e nos políticos aventureiros que não tem compromisso com a melhoria da qualidade de vida da população e nem a coragem de fazer valer o poder do estado na hora de cumprir a lei e punir severamente o povo relaxado que não faz sua parte para erradicar de vez com a dengue de nosso meio.
Limpeza geral e adeus dengue.
*Professor da rede estadual de ensino de MS. E-mail: ribeiroarce@gmail.com