A peça “Rádio Cruzeiro Apresenta”, que será encenada nos dias 23, 24 e 25 de junho, às 19h30, com entrada gratuita, no Núcleo de Artes Cênicas da UFGD, aborda com leveza e bom humor um momento marcante na história da comunicação: a transição do rádio para a televisão. Com texto e direção de Braz Junior, o espetáculo é resultado do trabalho coletivo de 19 artistas universitários, entre eles Mariane Rodrigues, que também atua como produtora, atriz e assessora de comunicação da montagem.
Segundo Mariane, em entrevista ao Dourados News, a ideia de retratar essa transformação nos meios de comunicação surgiu a partir de um recorte definido pelo diretor, que também é coordenador do NUENCENA - Núcleo de Estudos da Cena Contemporânea. “Ao compartilhar com o elenco a temática que seria explorada, optou-se por recortar um momento específico: a decadência do rádio e a ascensão da televisão. A partir dessa escolha, o processo foi ganhando forma com cenas improvisadas que serviram de base para a construção da dramaturgia”, explicou.
O espetáculo mistura drama e comédia, em uma narrativa envolvente centrada na figura de Plínio Garrido, dono da Rádio Cruzeiro. Mariane conta que essa fusão foi natural e bem conduzida ao longo do processo criativo. “O drama se concentra na trajetória de Plínio Garrido, dono da Rádio Cruzeiro, que nega a chegada da televisão e sofre com a perda de tudo que construiu. Já o humor aparece nas situações cênicas, na composição caricata de alguns personagens e na relação direta que os atores estabelecem com o público. Por tais motivos e a maneira como tudo foi sendo construído, foi bem orgânico e tranquilo juntar esses elementos de forma equilibrada.”
A personagem de Plínio, interpretada por uma mulher, traz um interessante jogo cênico e simbólico ao palco. Mariane destaca que essa escolha, ao lado de outras inversões, contribui para a potência do espetáculo. “Plínio é um homem mulherengo, vaidoso e arrogante, mas interpretado por uma mulher, enquanto sua esposa Zuleica é interpretada por um ator. Na rádio, ele representa um conservador de negócios; em casa, é submisso e obediente. Esse contraste entre ambientes, aliado à interpretação caricata, e a total recusa ao novo meio de comunicação, torna sua presença em cena ainda mais envolvente e marcante.”
O processo de criação do espetáculo foi coletivo, dentro da disciplina “Laboratório de Encenação II”, proporcionando liberdade para que os atores improvisassem e contribuíssem diretamente com o roteiro. “O diretor apresentou a temática inicial, e a partir disso começamos a improvisar cenas dentro do contexto histórico. Muitas ideias, personagens e situações surgiram desses exercícios e foram incorporadas à dramaturgia autoral desenvolvida por Braz Junior.”
Dentro da peça, há também a radionovela “Flor do Cafezal”, que traz uma linguagem regional e nostálgica. “‘Flor do Cafezal’ nasceu de referências extraídas dos dois primeiros atos da peça e foi criada como uma novela dentro da rádio que é ambientada na roça e conta a história de Flor, uma jovem sonhadora cujo casamento é arranjado pelos pais, donos de uma plantação. Essa escolha acrescenta um toque regional e nostálgico à narrativa”, explica Mariane.
Além das apresentações abertas ao público, o espetáculo conta com uma ação educativa voltada para estudantes da Escola Estadual Presidente Vargas, por meio da mediação teatral “Em frequência com o público”. Mariane destaca a importância desse contato com o público jovem: “Tem sido uma experiência muito rica. Essa é uma ação fundamental não apenas para a formação de público, como também pela possibilidade de gerar acesso à arte e aos espaços culturais, uma vez que a universidade disponibilizou ônibus gratuito para levar esses alunos da escola até a peça de teatro.”
Apesar do sucesso do projeto, a produção enfrentou desafios, como a coordenação de um grande número de atores e a falta de recursos financeiros. “Um dos maiores desafios foi coordenar um elenco numeroso, são 19 pessoas que aparecem em cena, com diferentes níveis de experiência e personalidades. Outra dificuldade foi a captação de recursos financeiros, já que o tempo para a montagem foi curto. E como solução, estamos realizando ações como vendas de brigadeiros e beijinhos para arrecadar fundos durante as apresentações.”
Por fim, Mariane reforça a importância de projetos como esse para o fortalecimento da cena artística local e para a valorização da arte como profissão. “É importante para mostrar a importância da existência do curso e profissão, artista também estuda e faz pesquisa, a arte vai além de ser apenas entretenimento.” Para quem for assistir pela primeira vez, ela deixa um convite especial: “Um espetáculo divertido e repleto de humor, mas que também provoca reflexão. Ele nos leva a pensar sobre o avanço da tecnologia, os meios de comunicação e como lidamos com as mudanças ao nosso redor, e tudo isso de forma leve, criativa e cativante”, finaliza.
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