sábado, 19 de abril de 2025
Dourados
23ºC
Acompanhe-nos
(67) 99257-3397
DOURADOS

Profissionais à frente da vacinação relatam 'missão cumprida' em meio a rotina de cansaço e ofensas

15 outubro 2021 - 08h03Por Thalyta Andrade

Iniciada em 19 de janeiro deste ano, mais precisamente às 11h43, quando a primeira dose de Coronavac foi aplicada em Dourados, a campanha de vacinação contra a Covid-19 do município atingiu em 100% esta semana a primeira meta de público vacinável estabelecida pelo Ministério da Saúde.

Quase nove meses depois, a grande maioria dos profissionais da saúde envolvidos na aplicação desde o começo seguem na desafiadora e exaustiva rotina, atendendo agora a repescagem para primeira dose e a continuidade de aplicação de dose 2 ou 3. 

Neste ponto da campanha, apesar dos desafios diários como até mesmo ofensas e acusações - a sensação é de dever cumprido em meio a uma pandemia que, desde o começo no ano passado, tirou a vida de 674 douradenses.

"Foi algo totalmente novo e desafiador como profissional e como pessoa, tivemos muitos momentos incertos em que na verdade a gente não fazia ideia do que ia enfrentar e muito menos de que estaríamos aqui hoje nesse ponto de cobertura vacinal. Mas, ao mesmo tempo, você conseguia viver junto com as pessoas a emoção de tomar a primeira dose, porque era algo muito esperado por todo mundo", contou Vaguiner Meirelles da Silva, de 41 anos, técnico de enfermagem que trabalha na Secretaria Municipal de Saúde de Dourados há 16 anos.

Ele é um dos vários profissionais envolvidos no trabalho do Núcleo Municipal de Imunização. Apesar da primeira meta ter sido atingida, ainda há muitas pessoas a serem imunizadas, principalmente com segunda e terceira dose.

No dia a dia dos boxes de vacinação ou no atendimento do drive thru, a rotina trouxe ainda o desafio de lidar ao mesmo tempo com emoções conflitantes, como a dor e a alegria que caminhavam lado a lado em pessoas que tiveram perdas na família por causa do coronavírus.

"A gente ouviu muitos relatos e não tem como não se compadecer com alguém que chega aqui e diz algo como 'estou tomando, mas a minha mãe não conseguiu chegar até aqui'. É emocionante, triste, você olha para aquela pessoa, ela começa a chorar e não temos ação. O que podemos dizer diante disso? Estou ali enquanto profissional, para fazer meu serviço, mas não quer dizer que não vá sentir o que essas pessoas estão sentindo e isso é um grande desafio".

Entre os vários momentos vividos, um marcou profundamente a rotina de Vaguiner. A questão da dose de 'sobrevivência' estar representada em cada frasco de vacina, por vezes, levou muitas pessoas a um estopim de dor e emoção.

"Teve um dia que uma moça chegou e pediu para sentar, achei que estava passando mal de fobia porque tem muitas pessoas que ficam assim só de olhar para uma agulha. E ela começou a chorar desesperadamente, ali na minha frente. Era um choro tão sofrido, uma dor tão profunda, que chorei junto com ela. Essa moça tinha tido Covid enquanto estava grávida do primeiro filho, que foi muito planejado. E depois de nascer ele ficou 15 dias na UTI e morreu. E o médico disse que complicações da Covid poderiam ter sido passadas para a criança. E quando ela foi tomar a vacina fazia oito dias dessa perda. E eu só pude dizer que Deus abençoasse ela com forças, porque não tem muito o que falar nesse momento. Teve várias outras situações, mas essa me marcou bastante".

Também na 'lida' de aplicação de doses desde o começo, a técnica de enfermagem Daniela Busanello, de 29 anos, trabalha na saúde de Dourados há oito meses. Antes da campanha, lidava com os desafios da Covid dentro de hospital, no trato dos pacientes. Viu de perto o que a doença pode causar e como pode tirar vidas de uma forma muito dolorosa e rápida.

"Tenho três anos de formada. Quando começou a pandemia, estava no âmbito hospitalar, então perdemos muitos pacientes. Fomos nós profissionais de saúde que perdemos primeiro, inclusive, porque levamos inevitavelmente a doença para nossa casa. Dentro da família não perdi, mas mesmo assim convivi com a dor da perda muito próxima de mim. É gratificante a gente poder chegar no patamar que estamos hoje, saber que uma coisa tão mínima quanto uma dose de vacina pode salvar tantas vidas. Foi difícil chegar até aqui". 

Rotina também incluiu ofensas

Além da emoção, os profissionais precisaram lidar também com as ofensas de muitas pessoas que mesmo recebendo a dose da vacina questionaram a eficácia, a efetividade da aplicação, a competência de quem estava com a seringa na mão e até mesmo o que havia dentro da seringa.

"Alguns olhavam e falavam: 'mas você tá fazendo vacina mesmo? o que tem aí dentro não é água?'. Isso é algo que te causa um sentimento bastante ruim, porque estamos ali nos dedicando, é exaustivo, cansativo e de repente no final de um plantão você ouvir isso de uma pessoa é frustrante. Em alguns momentos foi bastante frustrante", contou Vaguiner.

"Não temos como discutir se a pessoa não confia, mas é uma ignorância. Percebemos que nesse ponto, tem muita gente que não quer tomar ainda, mas vem porque é obrigado. Já ouvi de gente que é estudado, tem acesso a informação, que diz só estar tomando porque é obrigado por causa de trabalho", disse Daniela.

Para o futuro, esperança de valorização e mais consciência

Quando a reportagem do Dourados News perguntou sobre futuro, os dois personagens que representam na maior cidade do interior do Estado uma categoria que se mostrou ainda mais importante durante essa pandemia, fizeram coro ao que esperam: mais valorização da categoria, do SUS (Sistema Único de Saúde) e mais consciência das pessoas sobre espírito de coletividade e empatia.

"Acredito que a pandemia ela acabou em termos, mas que as medidas preventivas devem ser mantidas ainda em alguns aspectos. Também acredito que devemos tirar um aprendizado disso e que as pessoas aprenderam a ter empatia, serem mais solidárias, coletivas e terem compaixão com o próximo. Tenho esperança de que nós profissionais da saúde possamos sair mais valorizados, porque mostramos como nós e o SUS somos essenciais", finalizou Vaguiner.

Já Daniela quer voltar a rotina de hospital sem pandemia, claro. E deseja, assim como o colega de profissão, que as pessoas entendam a importância da ciência e das vacinas.

"Em qualquer lugar que a gente vai, em qualquer setor ou situação que a gente passa, acredito que aprendemos. Gostaria que todas as pessoas entendam a importância da vacina e de como isso já salvou tantas vidas. Vamos confiar. Chego nesse ponto [da campanha] cansada, mas feliz. Missão cumprida. É com essa sensação que eu vou embora todos os dias".
 

Deixe seu Comentário

Leia Também

Inscrições para a 24ª edição do Balaio terminam na segunda-feira
PRAZO

Inscrições para a 24ª edição do Balaio terminam na segunda-feira

Show gospel dá o tom da celebração na 2ª noite da Festa da Páscoa
REGIÃO 

Show gospel dá o tom da celebração na 2ª noite da Festa da Páscoa

DOURADOS 

Motocicleta é furtada de estacionamento de atacadista em Dourados 

BRASILEIRÃO

Vasco e Flamengo fazem Clássico dos Milhões neste sábado

UEMS

Inscrições para cursinhos gratuitos terminam neste sábado

FRONTEIRA 

Moradores encontram dois corpos em região de difícil acesso

CHUVAS

BR-267 é interditada pela PRF entre Jardim e Porto Murtinho

RELIGIÃO

Entenda o que é a Vigília Pascal, celebrada hoje pelos católicos

EDUCAÇÃO

UFGD abre 491 vagas para portadores de diploma e transferência

TRÊS LAGOAS

Após tirar o dente siso, rapaz tem infecção e morre em hospital

Mais Lidas

DOURADOS

Homem é preso após agredir companheira na praça de alimentação do shopping

DOURADOS

Homem é amarrado em placa de trânsito após agredir esposa no Jardim Canaã I

DOURADOS

Jovem é preso por tentativa de homicídio após esfaquear homem que tentou apartar briga

LESÃO CORPORAL

Discussão em frigorífico termina com homem esfaqueado em Dourados