Douradense mantém pedaço da Rússia no Água Boa, conheça o Museu Biblioteca Gorbatchov

Parte dos artigos do museu - Crédito: Jhonatan Xavier/Dourados News

Com a rotina cada vez mais acelerada, dificilmente paramos para pensar no quanto de histórias, culturas e curiosidades existem guardadas nas casas que estão no caminho para o trabalho, ou até mesmo nas de um vizinho. Essa é a realidade do Walter Veroneze, 51, residente no Jardim Água Boa, que montou em sua casa o Museu e Biblioteca Gorbatchov, um verdadeiro pedaço da Rússia dentro de Dourados.

Formado em administração, hoje ele é gerente de vendas e escritor e desde os 15 anos de idade alimenta a paixão pelo país, quando a Rússia, ainda como União Soviética, começou a se abrir para o mundo.

“Naquela época aqui no Brasil a gente só ouvia falar dos Estados Unidos, já a Rússia era tida com o Bicho Papão. Eu acredito que tudo tem um lado ruim e um lado bom, por isso quis conhecer mais sobre aquele país”, relata Walter.

Para contextualizar, aqui cabe um pouco de história. Em 1985 Mikhail Gorbatchov assumia o cargo de secretário geral do partido comunista da União Soviética e colocou em prática o plano intitulado Perestroika, que era a reestruturação do país após a escassez de recursos devido aos gastos com armamentos na guerra fria, que se aproximava do fim. Além disso, ele instituiu um segundo plano, o Glasnost, projeto que trouxe transparência para tudo o que acontecia dentro do comunismo e apresentou o país para o resto do mundo.

A partir daí a curiosidade do jovem douradense só aumentou, até que em 1989, aos 19 anos, ele escreveu para a embaixada da Rússia no Brasil, falando sobre a vontade de conhecer mais sobre a cultura do lugar e, como resposta, recebeu 15 livros sobre o tema.

Walter então foi além, fez contato com rádios da Rússia, tradutores, instituições e a cada carta, telegrama ou ligação recebia cada vez mais materiais sobre o país. Hoje possui um impressionante acervo com livros, revistas, jornais, cartas, documentos, artigos religiosos, medalhas, vestuário, entre centenas de outros artigos.

Com o passar dos anos a biblioteca já não cabia dentro de casa, então o cômodo nos fundos da residência foi reformado e deu lugar ao, agora, Museu Biblioteca Gorbatchov, um pedaço da história e da cultura da Rússia bem no meio do Jardim Água Boa, tudo catalogado e organizado por setores.

Claro que uma paixão deste tamanho logo conquistaria mais pessoas, Walter e sua esposa, Celma Veroneze, 50, foram com os dois filhos Igor e Raissa Veroneze, de 23 e 20 anos, pela primeira vez para Rússia em 2012, onde Igor também se encantou com o país e voltou para fazer intercâmbio.

De lá para cá já foram quatro viagens para o maior país do mundo e, hoje, os filhos cursam faculdade lá. “Por causa da pandemia eles precisaram voltar ao Brasil e desde então fazem os cursos a distância, se adaptando ao fuso horário enquanto aguardam para retornar”, disse.

A cultura da Rússia conquistou toda a família, porém, apenas dois pontos são exceção, o primeiro é um espaço para o emblema do Corinthians entre as camisetas dos times russos, já o outro, um espaço dedicado para o Batman, personagem preferido desde a infância.

“Mas até aqui tem um pouco da Rússia, eu recebi um exemplar do livro ‘Batman Terra Um’ todo em Russo”, ressalta.

Apesar do orgulho em mostrar e falar sobre o seu acervo, Walter afirma que a biblioteca não está aberta ao público, entretanto, ele não se nega a atender quem tiver interesse em saber mais sobre o tema.

“Tudo isso aqui começou com um sonho. Eu tinha curiosidade em saber mais, ir além do que ou outros falavam e, mesmo com as dificuldades de comunicação da época, eu não desisti. Espero que a minha história também possa servir para todas as crianças curiosas a alcançarem seus objetivos”, finaliza.

Walter também alimenta o site do Grupo Baikal, onde é possível encontrar maiores informações sobre todo o trabalho.

Confira algumas fotos do acervo do museu: