Mário Cezar Tompes da Silva*
Em dezembro último tive a oportunidade de participar de uma reunião do Fórum Áreas Verdes e Qualidade de Vida. A referida entidade é um estimulante exemplo da vitalidade da sociedade civil douradense. Trata-se de uma iniciativa, a exemplo de tantas outras que estão se reproduzindo neste momento Brasil afora, onde algumas pessoas inconformadas com a baixa capacidade do poder público em desempenhar seu papel satisfatoriamente, decidem disponibilizar seu tempo e energia, de forma voluntária e não remunerada, em prol de algum bem público.
No caso específico do Fórum seu objetivo consiste em sensibilizar e mobilizar cidadãos douradenses com o propósito de engajá-los na definição de estratégias de revitalização de parques e praças em nossa cidade
O Fórum Áreas Verdes teve início a partir do trabalho desenvolvido por um professor de uma escola municipal que ao decidir desenvolver um projeto de educação ambiental com seus alunos no parque Arnulpho Fioravanti ficou inconformado com o estado de abandono daquela área. O inconformismo poderia ter se esgotado em uma insatisfação e lamento pessoal, mas nesse caso o professor decidiu ir além, sensibilizou e engajou na causa docentes das universidades do Município e representantes de outras instituições ambientais da cidade, bateu à porta da Câmara e um vereador decidiu dar suporte a esse esforço coletivo. O movimento ganhou ritmo, adicionou mais adeptos e o resultado foi a criação do Fórum.
Porém, os membros da nova entidade logo perceberam que a situação de precariedade não era um atributo exclusivo do parque Arnulpho Fioravanti e decidiram estender as ações do Fórum para abranger todas as demais áreas verdes da cidade. Dourados é uma cidade bem servida de áreas verdes, a comunidade douradense dispõe de quatro parques (Arnulpho Fioravante, Antenor Martins, Parque Ambiental Rego D’Água e Parque Ambiental Victelio Pellegrin). Todos, no entanto, são vítimas da escassa atenção do poder público visível no déficit de infraestrutura, na manutenção insuficiente e no aspecto geral de abandono.
No último final de semana, decidi variar o local onde costumo praticar minhas caminhadas e fui ao Parque Antenor Martins que dispõe de uma pista para atender os adeptos dessa modalidade de exercício. O Antenor é um dos parques melhor estruturados da cidade, além da pista para caminhar, possui seu perímetro cercado, banheiros, lago com pedalinhos, quiosques, play ground, quadras poliesportivas, teatro de arena etc. Apesar disso, a exemplo das demais áreas verdes da cidade, encontra-se visivelmente deteriorado pela insuficiência de cuidados de manutenção e escassez de investimentos públicos.
Os problemas têm início nas calçadas que lhe dão acesso, isto é as poucas existentes, já que na maior parte do entorno do parque elas inexistem. As que foram implantadas foram desintegradas pela ação das raízes das árvores lá plantadas. Os desníveis das lajotas erguidas pelas raízes funcionam como armadilhas de grande eficácia para pedestres desatentos. Os usuários de terceira idade são suas vítimas prediletas.
A cerca de alambrado que circunda a área do parque há muito aguarda manutenção. Em vão! Partes do alambrado foram forçadas e rompidas gerando aberturas e buracos, pelo aspecto, alguns muito antigos. A cerca com sua cor há muito desbotada e com partes já oxidadas aparenta rogar por uma demão de tinta. Em certos trechos a cerca foi retirada para alargamento da rua adjacente ao parque e, embora isso já tenha acontecido há anos, ela, até hoje, não foi reerguida.
A pista de caminhada pavimentada, embora implantada não há muito tempo, já apresenta visíveis sinais de falta de manutenção. Em um longo trecho encontra-se retalhada com cortes que foram feitos para a instalação da rede de energia e nunca reparados. Aparentemente o trajeto da pista nunca foi concluído já que muitos de seus trechos continuam na forma de caminhos de terra, outros trajetos são inesperadamente interrompidos em meio ao gramado. Muitas mudas de árvores plantadas ao longo da pista já morreram, aparentemente por ausência de cuidados, e jamais foram repostas.
Um prédio erguido em 2013 ao custo de R$ 150.000,00 que deveria se destinar a uma academia de saúde para promover práticas esportivas encontra-se abandonado, em pleno processo de deterioração, nunca tendo sido utilizado desde sua inauguração. Difícil imaginar uma justificativa plausível para uma tal situação!
No entanto, apesar destas e de outras mazelas, o Parque apresenta inegável potencial, é uma promessa a espera de ser cumprida, caso receba uma atenção mínima dos gestores municipais. Sua mera existência já garante uma espetacular área verde de 7.700 m2 para o usufruto dos douradenses, um belo lago, alguma infraestrutura de lazer, ainda que precária, além de outros atrativos que necessitam apenas de algum investimento e manutenção.
Adicionalmente, o parque cumpre um papel social extraordinário para os segmentos mais empobrecidos da população. Quem dispõe de recursos goza de um leque diversificado de opções de lazer, porém, a população mais humilde e com dinheiro curto conta com poucas alternativas de recreação. O parque oferece uma das raras opções de lazer gratuito para essa faixa da população. Isso por si só já deveria ser motivo bastante para que recebesse tratamento mais condizente do poder público municipal.
Embora a comunidade deva reivindicar uma postura bastante mais pró ativa da Prefeitura na promoção de nossas áreas verdes (afinal os douradenses pagam seus impostos em troca de serviços prestados e eles desejam e, certamente merecem, uma boa prestação desses serviços por parte do agente público), ela também deve aproveitar a oportunidade de realizar sua própria contribuição no melhoramento de nossos parques urbanos. É precisamente nessa segunda modalidade de atuação que se insere o esforço atualmente realizado pelo Fórum Áreas Verdes e Qualidade de Vida. Um punhado de cidadãos douradenses engajado em não somente reivindicar, mas disposto a unir esforços com o poder público para promover a manutenção, o aperfeiçoamento e, se possível, a ampliação de nossas áreas verdes.
*Professor de Planejamento Urbano no MBA de Gestão Ambiental Municipal da UFGD. E-mail: mariotompes522@gmail.com