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COLUNA

Conexão Grevenstein

Ana Cavalheiro

Do outro lado

10 março 2025 - 00h04

Fui ontem ao salão da Zélinha.

Ela na verdade nunca acertou fazer meus cabelos do
jeito que eu gosto, reclama da tinta que uso e
costuma perguntar quem pintou meus cabelos pela
última vez.

Tenho sempre o ímpeto de responder; Não te
interessa!

Mas me calo, com um meio sorriso.

Zélinha, faz a linha dos cabelereiros fashion dos
bem nascidos - seja lá o que isso signifique.

Na verdade sinto uma certa melâncolia quando vou à
Zélinha, algo parecido como se eu estivesse no
lugar errado, ouvindo coisas desnecessárias,
perdendo meu tempo. Decidi que não irei mais fazer
meus cabelos com ela e enquanto reflito sobre isso
entendo, que não aprecio ir ao cabelereiro.

Somos todos bem nascidos.

Não, para Zélinha.

Encantada, ela relata que Fulana havia ganhado um
carro do marido de presente.

Escuto em silêncio e me pergunto, porque Fulana,
ela mesma, não comprou o tal carro.

Teria ela Fulana assinado o contrato de união
estável?

Aquele contrato onde o *Conje - aqui lembrando o
cansaço daquele juiz imparcial? que depois virou
um pato e mais tarde criou esse até então,
inexistente vocabulário *conje - presenteia a
esposa como uma forma de agradecimento pelos
serviços prestados à familia.

A meritocracia da mulher direita?

O exemplo da mulher que não tem vontade propria e
cujo comportamento causa comoção aos Santos, já
que ela renunciou ao direito de si mesma, de
construir uma condição financeira ao lado do
esposo.

A mulher prestimosa - e isso carrega algum
mistério - cujo esposo a honra com uma união
feliz.

Uma falácia?

Que desonra para a classe feminina.

#Cavalheire-se!

Não contente, Zélinha agora complementa a vida
explêndida de Fulana relatando sua ultima viajem
ao exterior - acentuando que no Brasil existem
lugares bem melhores que em outros países.
Como se viajar fosse para isso, pensei.

Interrompi Zélinha, pedindo para que cortasse três
dedos do comprimento do meu cabelo, deixando bem
curto, rente ao queixo.

Zélinha retrucou que não ficava bem para mim, pois
meu cabelo é armado e iria parecer um arapuá.
Falei que gosto de arapuá.

Ela disse que India Potí está fora de moda.

Eu disse gostar do estilo India Potí.

Ela não escutou e repicou as pontas e fiquei com
cara da madame que havia cortado o cabelo antes de
mim e agora esperava o chauffeur com aquele cabelo
horrivel.

Aff, odiei por um momento Zélinha ao ver aquele
cabelinho certinho de mulher direita que assina
contrato de união estável!

Silenciei-me, me orgulhando de não ter sido mal
educada, no momento que entendi que Zélinha
merecia respeito por sua forma de ser e por seu
mundo diferente do meu.

Me conformei, era eu que estava no lugar errado.
Confiei meus cabelos à pessoa errada, mas agora
torcer por mim, para que não cometa erros
futuros, com coisas mais importantes.

Certamente nunca tomarei uma taça de vinho com
Zélinha.

E antes que eu me esqueça: fuck yourself Zélinha!

Ana Cavalheiro
Arquiteta Cronista Mulher
Grevenstein - Germany
Vila São Pedro - Brasil

Dicionário:

Fuck yourself: intraduzível - e foi escrito antes
de Janjinha ter a delicada idéia de dizer essas
mesmas palavras ao Musk.

Recentemente alguém na Dinamarca disse o mesmo
para Trump.

Arapuá: uma espécie de abelha, mas se diz também
para uma cabeleira revoltada.

Chauffeur: motorista em francês, usei em homenagem
a Zélinha, que adora usar palavras estrangeiras.
Outubro 2024

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