“É clima de tortura psicológica! Estou sem dormir e agora até sem o direito de ir e vir pra minha casa”, é assim que os moradores da região de próxima a Aldeia Bororó em Dourados, descrevem o dia a dia no local dominado pelo clima hostil de ameaças, agressões, vandalismo e tensão.
Há cinco anos o local foi ocupado por indígenas que formaram a retomada Tekoha Avae’te, sob a alegação de que o território é área tradicional. Desde então diversos ataques têm sido registrados, sendo intensificado nos últimos 15 dias.
O Dourados News teve acesso a novos vídeos e fotos feitos por moradores nesta segunda-feira (28) que trazem relatos de produtores e trabalhadores vítimas de agressões e alguns indígenas aparentemente aramados com facões e paus, ateando fogo na lavoura, apedrejando veículos e ameaçando a população.
Um dos produtores que preferiu não se identificar, relata que as famílias da região vivem com medo e têm sido atacado com frequência pelo grupo.
“Moro aqui desde a década de 1980, mas tem cinco anos que essa situação começou e agora está pior. Dias atrás meu carro foi cercado por oitos indígenas encapuzados que me ameaçaram apedrejaram meu carro. Aqui tem famílias, pessoas com medo, uma vizinha que tem uma criança pequena está quase entrando em depressão”, disse.
O homem ressalta que a liderança da aldeia se posicionou contra os atos e que é um grupo específico de indígenas que tem realizado o vandalismo.
No dia 14 de agosto a Polícia Militar foi acionada pra atender ocorrência em uma chácara onde está localizada empresa voltada a locação de caçambas para entulhos e uma sitioca onde residem trabalhadores que atuam como operadores de máquinas.
Os indígenas são acusados de fazer uso de “táticas de guerrilhas”, como “método de envolver oponente em movimentos circulares, ataques ocultos de emboscadas, utilização de lançamento de explosivos (Coquetel Molotov)”.
No dia 27 de julho, um grupo de indígenas armados com facões, foices e pistola invadiu uma fábrica de laje no Anel Viário Norte, Zona Rural de Dourados, onde expulsaram os funcionários e tomaram o local.
O outro lado
Em meio aos constantes ataques e denúncias, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) do Mato Grosso do Sul lançou nesta segunda-feira (28) o minidocumentário “Pode queimar: indígenas sob ataque das milícias do agronegócio”, que traz a perspectivas dos indígenas da região.
O material utiliza registros próprios e imagens feitas pelos indígenas durante ataques, tiroteios e incêndios ao longo dos últimos anos.
Já no dia 24 de agosto, agentes da Polícia Federal de Dourados foram até a retomada para ouvir sobre denúncias de ataque e também das ameaças de estupros por parte de pessoas contatados pelos proprietários rurais para fazer a segurança privada dos locais. Segundo ele, os atos aconteceram na semana anterior.
Intervenções políticas
Na sessão ordinária no dia 21 de agosto, o vereador Rogerio Yuri (PSDB), levou a questão dos conflitos territoriais para discussão no plenário e propôs a criação de uma frente parlamentar para tratar o assunto.
Também na última emana o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou uma ação proposta pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que denuncia violência policial e violações de preceitos constitucionais contra comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul.
Informações da Agência Brasil apontam que a Apib alegas que as violações cometidas contra os indígenas da etnia Guarani-Kaiowá são sistêmicas e se relacionam com a ausência de demarcação da terra tradicionalmente ocupada.
A entidade argumenta que o governo adota uma política de segurança pública que desconsidera e desrespeita os direitos fundamentais dos povos indígenas. Essas operações não teriam amparo legal nem autorização judicial.
Nas redes sociais do Dourados News você pode conferir o vídeo enviado à nossa redação por produtores da região.